(Por Adilson Souza, MSc)
A educação brasileira
A educação brasileira tem uma estreita relação com a história da educação católica, dado que, desde o início da colonização, o país já sentia a presença de religiosos Jesuítas (1549) [1], a fim de inserir a prática pedagógica junto à população indígena através da catequese e, ainda, atender às famílias dos colonos via implantação de unidades escolares.
Outras ordens religiosas vieram se instalar no país nos séculos seguintes, o que fortaleceu a presença religiosa e o ensino católico em nossa terra. Essa prevalência da educação católica no Brasil perdurou por volta de trezentos e cinquenta anos, só vindo a ‘romper-se’ com a promulgação da Constituição de 1891, onde se teve a necessária separação entre Igreja e Estado. Desde então, a ampla liberdade religiosa impera na nação, garantindo, respeitada a legislação nacional, a educação e o ensino confessional até os dias de hoje.
No decorrer da história, foram diversos documentos que balizaram a educação católica no país e, dentre eles, cabe registrar no ano corrente, a celebração dos 55 anos da declaração Gravissimum Educationis[2], documento conciliar que abordou o tema acerca da educação católica e, ainda, os 30 anos da Constituição apostólica Ex corde Ecclesiae, que tratou da identidade e da missão da universidade católica.
E essa educação, quando dirigida às crianças e jovens, não tem seu fulcro apenas nas instituições físicas confessionais. Antes, cabe às famílias serem reconhecidas como seus primeiros e principais educadores, sendo dever dos pais a criação de um ambiente que possa conjugar, de tal modo, um animado amor e piedade para com Deus e para com os homens favorecendo, assim, a completa educação pessoal e social dos filhos (GE, 1965)[3].
Dessa forma, sabedores de que a formação, nos primeiros anos da infância, exerce considerável influência ao longo de toda a vida, a família tem uma especial responsabilidade, sendo a base na formação de seus filhos, incutindo nos mesmos as virtudes e valores sociais que as sociedades venham demandar para o equilíbrio e necessária harmonia social entre os povos.
Tem-se, portanto, um imperioso ponto a ser bem trabalhado, que é a sinergia a ser construída e vivenciada entre escola e família, dado que esta ensina “os primeiros passos” e à primeira, cabe a continuidade da formação, em parceria e sintonia com os pais e responsáveis primeiros pela educação.
A escola, de forma muito especial, deve ser percebida e valorizada com a devida importância, haja vista, a promoção dos sentidos dos valores e a preparação para a vida profissional em seus tempos e espaços, dando continuidade e moldando o que o aluno trouxe de sua casa/família.
A Sagrada Congregação para a Educação Católica[4] (1977), diz que,
“a escola deve estimular o aluno ao exercício da inteligência, solicitando o dinamismo da elucidação e da descoberta intelectual e explicitando o sentido das experiências e das certezas vividas. Uma escola que não cumpra esta tarefa e que, pelo contrário, ofereça elaborações pré-fabricadas deixando de lado os conhecimentos prévios das crianças e jovens, torna-se, por isso mesmo, obstáculo ao desenvolvimento da personalidade dos alunos.”
E neste sentido, é crucial que a escola tenha um devido e efetivo planejamento de suas ações, bem como a possibilidade e a aplicabilidade do seu plano por toda a equipe e, de maneira especial aqui tratada, pelos professores.
Daí, um outro ponto a ser considerado e ratificado pela Santa Sé quanto à essencialidade da escola, é o olhar único que deve ser dirigido aos seus docentes, estes, como peças estritamente essenciais no processo de ensino-aprendizagem; importa, portanto,
“que sejam preparados com particular atenção, que estejam munidos de ciência quer profana quer religiosa e possuam a arte de educar, de harmonia com o progresso dos nossos dias e imbuídos de espírito apostólico, deem testemunho de Cristo, quer com a vida quer com a doutrina” (GE, 1965).
Aqui temos, além da escola em si, a imprescindível participação daqueles que conduzem e dinamizam as salas de aula junto aos seus discentes. E faz-se necessário, tanto quanto para as instituições, que os professores sejam percebidos como partes integrantes e intrínsecas de todo o processo educacional, não gerando dúvidas quanto ao alinhamento e identidade de ambos a uma educação verdadeiramente católica.
A Congregação para a Educação Católica conclama que ‘é desejável que os professores proponham aos alunos ocasiões para experimentar o impacto social daquilo que aprendem, favorecendo assim a descoberta da relação entre a escola e a vida, e o desenvolvimento do sentido de responsabilidade e de cidadania ativa.’[5] Ou seja, impele os alunos às ações transformadoras de suas realidades. E que estes sejam estimulados a tal, pela saudável e desafiadora provocação a partir dos docentes.
Cabe reforçar que a instituição deve criar a oportunidade em ser o espaço que favoreça uma efetiva aprendizagem, um processo educativo amplo tornando, assim, a dinâmica do dia a dia em possibilidades concretas para que os alunos coloquem em prática o aprendizado a serviço da própria comunidade (local ou mundial), exercendo a cidadania lembrada pela Congregação.
Por isso, a sociedade não poderia ter dúvidas quanto às particularidades, diferenças e características que compõem a educação/escolas católicas da educação/escolas laicas. Assim, deve ser explicitado pelas instituições confessionais católicas, traços que as fazem diferir das laicas, que as delineiem de tal forma e singularidade, que sua identidade seja visível e clara. No entanto, temos percebido – em menor escala -, escolas católicas que não defendem o legado dos fundadores e dos próprios institutos de vida consagrada, vivendo deveras à deriva e sem um rumo seguro e definido.
[Continua]
[1] http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-jesuita-no-brasil/ Acesso em 30/04/2020.
[2] Declaração conciliar Gravissimum Educationis. Sobre a Educação Cristã. Papa Paulo VI, 1965.
[3] Idem 2.
[4] Sagrada Congregação para a Educação Católica. A escola católica. Garrone, Gabriel Maria, Prefeito. Roma; 1977 (27).
[5] Sagrada Congregação para a Educação Catóica. Educar hoje e amanhã, uma paixão que se renova. Instrumentum laboris. Vaticano, 2014 (p. 8).
Sobre o autor (Adilson Souza, MSc):
Matemático, Mestre em Engenharia Metalúrgica e Especialista em Gestão Estratégica. Superintendente do Axis Instituto e Consultor Organizacional Sênior. Professor de Graduação e Especialização: UIT/Itaúna, Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) e Faculdade Vicentina de Curitiba (FAVI). Cursando Teologia e aluno da Escola Diaconal da Diocese de Divinópolis/MG.
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Fotos: Pixabay