Servir gratuitamente nos traz paz, felicidade e bem-estar

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(Por João Bosco de Carvalho)

Ensinamentos

O  IDOSO  E A JABUTICABEIRA

“Um idoso estava cuidando da planta com todo carinho. Um jovem aproximou-se dele e perguntou-lhe: – Que planta é essa que o senhor está cuidando? É uma jabuticabeira – respondeu o idoso. E ela demora quanto tempo para dar frutos? Indagou o jovem. Pelo menos quinze anos – informou o idoso. E o senhor espera viver tanto tempo assim? – perguntou ironicamente o rapaz. Não, não creio que viva mais tanto tempo, pois já estou no fim da minha jornada – disse o ancião. Então, que vantagem o senhor leva com isso? – Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ninguém colheria jabuticabas se todos pensassem como você…”. (As Mais Belas Parábolas de Todos os Tempos – Alexandre Rangel. Ed.: Leitura)

O ensinamento proposto pelo idoso, no texto acima, mostra-nos uma maneira de ser oposta ao da nossa sociedade atual. Vivemos num mundo alicerçado no egoísmo, no imediatismo, na ganância e no lucro. Infelizmente, hoje, predomina ao nosso entorno a lei do “Toma lá dá cá”. É uma triste realidade, mas, muitas das ações do ser humano estão fundamentadas neste princípio egoísta e dominador.

Pela mentalidade atual, somos levados a ocupar o nosso tempo, unicamente, em ações que produzam ganhos e resultados instantâneos. O que não gera lucros e frutos, rápidos e palpáveis, não nos interessa e nem nos atrai satisfatoriamente. Esta é a maneira de ser que, sutilmente, nos está sendo imposta pela nossa sociedade consumista atual. Se não tivermos um pouco de senso crítico e discernimento, facilmente, seremos dominados por essa maneira egoísta de ver a vida, semelhante ao jovem no relato do texto acima.

É evidente que devemos nos preocupar com a nossa sobrevivência, com uma boa qualidade de vida e a eficácia das nossas ações. Entretanto, nem tudo na vida deve ser fundamentado, exclusivamente, no lucro, nos interesses visíveis e imediatos. Convivemos, também, com realidades e sensações de bem-estar invisíveis e imensuráveis, mas nem por isso, menos importantes para a nossa caminhada.

O texto acima fala de um pé de jabuticabeira sendo cuidado carinhosamente por um idoso;  portanto, nos remete à mãe natureza. Esta maneira de ser, de tudo dominar e explorar, presente no texto,  infelizmente, também se manifesta, no ser humano, nas suas relações com a mãe terra. O Papa Francisco, na sua bela e profunda encíclica “Laudato Si”, nos alerta para essa prepotência do ser humano de querer ser dono de tudo, inclusive, da natureza. 

 

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A alegria de servir

“Mas seria errado também pensar que os outros seres vivos devam ser considerados como meros objetos submetidos ao domínio arbitrário do ser humano. Quando se propõe uma visão da natureza unicamente como objeto de lucro e interesse, isso comporta graves consequências também para a sociedade. A visão que consolida o arbítrio do mais forte favoreceu imensas desigualdades, injustiças e violências para a maior parte da humanidade, porque os recursos tornam-se propriedade do primeiro que chega ou de quem tem mais poder: o vencedor leva tudo”  (Laudato Si; Parágrafo 82)

 
A alegria de servir, gratuitamente, transmite-nos paz e serenidade, gerando uma nova energia para a nossa vida. Ter a possibilidade de contribuir para a felicidade do outro nos traz um bem-estar físico e psíquico. Isto está comprovado cientificamente, ou seja, fazer bem ao outro, gratuitamente, faz bem à nossa saúde. Estou afirmando isto por experiência própria; todas as vezes que Deus me dá a possibilidade de contribuir para a felicidade do outro, a alegria interna que sinto é inexplicável. Nada se compara à alegria de poder contribuir para a felicidade de quem está ao nosso lado. Aproveito o momento para citar a reflexão de um dos maiores líderes espirituais do nosso tempo o Dalai-Lama. Vejam o que ele coloca no seu livro “365 Mensagens de Sabedoria e Compaixão” (Ed. Sextante): 
 
 

“Descobri que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes, maior o nosso bem-estar. Ao cultivarmos um sentimento profundo e carinhoso pelos outros, passamos automaticamente para um estado de serenidade. Essa é a principal fonte de felicidade.”

 
O texto inicial da nossa reflexão ressalta que cuidar de uma jabuticabeira, que somente produziria frutos em torno de quinze anos depois, era razão da felicidade do idoso. Certamente, ele não iria saborear os frutos do seu trabalho, mas ele agia de maneira gratuita, visando à alegria que futuramente a natureza iria propiciar para as outras pessoas, através do seu cuidado para o crescimento saudável da jabuticabeira. 
 
Essa é a maneira de ser de Deus, que ama gratuitamente cada ser humano. Vejam o que Jesus afirma no Evangelho de Mateus: “Amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim tornarão filhos do Pai que está no céu, porque Ele faz nascer o sol sobre os maus e os bons e a chuva cai sobre os justos e injustos” (Mateus 5. 44-46) 
 
Se todos pensassem egoisticamente como o jovem do texto, jamais teríamos a alegria de colher os saborosos frutos das jabuticabeiras. No caso do relato acima, as jabuticabas somente poderão ser colhidas futuramente, graças ao trabalho carinhoso e gratuito das mãos do idoso.
 
A nossa mãe natureza tem seu tempo certo para produzir os seus frutos. O homem tem pressa para tudo. E, muitas vezes, o ser humano sacrifica a natureza na pressa de resultados e do lucro rápido do seu trabalho, usando métodos de cultivo que sacrificam a mãe terra. Aproveito o momento para citar novamente a Laudato Si” do nosso querido Papa Francisco, quando se expressa desta maneira. 
 
  

 

 [Continua]

Sobre o autor (João Bosco de Carvalho):

Teólogo, filósofo; ex-frade capuchinho; ex-diretor do Centro Educacional H. Antipoff, em Couto de Magalhães (MG); elaborador de projetos sociais para diversas instituições, com projetos aprovados por apoiadores da Itália, Alemanha, Austrália e Brasil; docente em elaboração de projetos.

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Fotos: Pixabay 

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