escola reforma ensino medio educacao escola reforma ensino medio educacao

Desafios da reforma do Ensino Médio

6 minutos para ler
   

(Por Pedro Henrique Ramos, Dr.)

Desafio!

Desafio! Esta é a palavra de ordem para a nova reforma do ensino médio, que entrou em vigor em 2022. As escolas desse nível de ensino tiveram 4 anos para discutir, planejar e implementar essa nova reforma. Infelizmente, devido à nossa cultura de deixar tudo para a última hora e devido à pandemia nos últimos dois anos, é possível que muitas instituições tenham definido seus modelos apenas no último momento.

Uma pena realmente, pois, para que uma reforma educacional obtenha sucesso e se transforme em uma base para 10, 20 anos de uma política educacional, seria necessário que as instituições tivessem discutido em profundidade o espírito da reforma a partir dos desafios do ensino médio no Brasil. Porém, sabemos que os custos de reuniões são elevados.

Às vezes, não dispomos de uma equipe capaz de fazer discussões produtivas e capaz de propor as ideias apropriadas. Em algumas vezes, são as mantenedoras que definem suas políticas educacionais sem, contudo, ouvir suas mantidas.

Além desses desafios de ordem prática, faremos uma provocação que o tema permite: quantos alunos foram ouvidos pelas escolas para a elaboração do novo ensino médio? Quantos alunos contribuíram para a elaboração do Projeto de Vida ofertado pelas escolas?

Os alunos poderão realmente escolher os itinerários formativos ou fizemos apenas uma maquiagem curricular? Qual margem de escolha conseguimos garantir aos jovens neste novo desenho curricular? Ora, como é possível propor uma mudança curricular para um segmento sem, ao menos, ouvir e entender os anseios e desejos desses jovens que viverão, na prática, todas essas mudanças?

Uma parte do que pretendemos, neste artigo,  é demonstrar a importância de termos uma postura mais crítica e exigente diante de uma reforma tão necessária e aguardada. Além disso, chamo a atenção do leitor para a importância de criarmos mais canais de diálogo com a atual juventude.

Os jovens de hoje são bem diferentes das nossas gerações. Isso implica afirmar que, se já existia um desafio para implementar uma reforma, talvez a tarefa mais complexa seja, exatamente, propor uma reforma com a “cara” e as demandas dos jovens. Além disso, essa reforma precisa estar alinhada às necessidades específicas do século XXI.

Portanto, também  pretendemos, neste artigo, elencar os principais desafios da reforma do ensino médio de modo que gestores, professores, alunos e famílias, possam fazer uma reflexão aprofundada acerca dos desafios que já existiam para esse nível de ensino e que, agora, ficaram mais complexos, uma vez que foi inserido um novo elemento e que se traduz na reforma que entrou em vigor no início de 2022.

Reforma do Ensino Médio

A Lei 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, foi assinado pelo então Presidente da República, Michel Temer, e pelo Ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, e definiu uma série de mudanças para as escolas de ensino médio do Brasil.

Conforme determina a Lei, o ano de 2022 foi estabelecido como o limite para o início da implantação dessa reforma. A seguir, abordaremos criticamente os principais desafios da reforma, a partir da Exposição de Motivos da Medida Provisória nº746 de 2016[1] e que foi convertida na Lei 13.415 de 2017 e que estabeleceu a atual reforma do ensino médio:

Foto: Grupo de jovens

1.O Legislador concentrou sua atenção na reorganização dos currículos e na ampliação da jornada escolar[2]. Entretanto, se as instituições educacionais optaram apenas por uma reorganização dos conteúdos curriculares, aumentando ou mantendo a jornada escolar como já estava, é possível que essas instituições não consigam oferecer aos jovens essa tão aguardada reforma.

Na realidade, a reforma pretende muito mais do que rearranjos curriculares e uma carga horária elevada. Até porque, reorganização do currículo e aumento de carga horária não asseguram a excelência educacional e nem dialogam com as demandas do mundo atual. Assim, a reforma exige não uma mudança superficial mas, sim, uma reforma no campo das ideias dos profissionais da educação, dos alunos e das famílias.

Portanto, esta é uma reforma eminentemente interna. Aqui, um grande desafio: será preciso vencer as forças do comodismo e aquelas inseridas no campo das disputas curriculares. A implantação de uma reforma envolve, necessariamente, uma mudança. Se isso não ocorrer por que uma reforma? Por outro lado, será preciso superar as disputas por espaço nos currículos e que, muitas vezes, ocorrem de forma agressiva.

A reforma cumprirá seus objetivos se as instituições idealizaram e gestaram modelos de ensino médio que sejam mais efetivos e úteis aos milhares de jovens espalhados pelo Brasil e, principalmente, que tenham pensado em um ensino médio capaz de fazer frente aos desafios da nação nas próximas décadas.

Quatro anos representa um tempo suficiente para propor, criticar e amadurecer qualquer proposta de reforma dentro de uma instituição. Portanto, as escolas de ensino médio tiveram tempo.

Entretanto, se não aproveitaram o tempo para gestar essa reforma, é muito provável que elas tenham dificuldades logo no primeiro ano de sua implantação. E poderão ter certeza de que os problemas só aumentarão.

[Continua]

[1] Fonte: Exposição de Motivos da MP 746: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Exm/Exm-MP-746-16.pdf. Acessado em 08 de janeiro de 2022, às 9h.

[2] Até 1.400h anuais. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acessado em 02 de fevereiro de 2022, às 9h.

Sobre o autor (Pedro Henrique da Silva Melgaço Ramos, Dr.):

Graduado e bacharel em Geografia pela PUC-MG; Graduado em Pedagogia pela UFMG; Mestre em Currículo pela PUC-MG e Doutor em Políticas Educacionais pela PUC-Minas.

Leia o artigo na íntegra!
CLIQUE AQUI

 

Fotos: Pixabay

Posts relacionados