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Os novos espaços de Evangelização no mundo

8 minutos para ler

(Por Pe. Nivaldo Magela, Me)

A pessoa e suas relações

No início do ano de 2020, não se calculavam os riscos e consequências da pandemia. Era um fato distante, mas que despertava atenção pela capacidade de transmissão do vírus e os riscos crescentes de sua disseminação. Em seguida, os conhecimentos da medicina se demonstraram limitados diante da nova ameaça.

Hospitais foram erguidos em poucos dias e houve esvaziamento de ruas e comércios. Soluções como distanciamento social, confinamento em residências e isolamento de indivíduos dentro de suas próprias casas surpreendiam a todos. Posteriormente, assistimos o alargamento do “território” da Covid 19. Se antes olhávamos para o oriente assistindo ao drama, a pandemia começou a se aproximar com casos muito próximos.

Abruptamente fomos assaltados pelo uso obrigatório de máscaras, que afetava a conhecida simpatia, espontaneidade e sociabilidade do brasileiro.

Do uso da máscara, passando pela utilização do álcool gel frequentemente, chegamos ao isolamento social, fechamento de escolas e comércios em pouco tempo. Formava-se, assim, um novo modo de viver, que parecia ser por pouco tempo, mas que, ainda hoje, seguimos, inseguros diante de índices alarmantes de contágio e mortes.

A pandemia abriu uma ferida no ideal de progresso constante e otimista, e, ao mesmo tempo, insustentável. A atual pandemia feriu mortalmente os modernos messianismos da ciência e do progresso, o estado de bem-estar neoliberal, a segurança e a afirmação de Fukuyama de que agora chegamos ao fim da história.[1]

Este messianismo em queda provoca o homem a assumir uma nova antropologia, um novo modo de ser e novas perspectivas. O isolamento, o confinamento, o distanciamento social, a proximidade da morte, tudo isso nos fez repensar as metas pessoais e os anseios sociais.

Sem dúvida, a pandemia propicia revisões existenciais, sociais e econômicas, pois atinge a existência, as relações sociais e a economia.

Diante deste quadro acelerado de mudança provocada pela Pandemia mundial, surgiram novos desafios para Evangelização e se intensificaram reflexões, estudos e discussões.  O que está acontecendo? O que devemos fazer? São questões que ainda estão em processo e provocam a comunicação do evangelho, a evangelização.

Foto: Pessoa sozinha.

Sozinhos não podemos.

Papa Francisco no Pacto Global pela educação afirma[2] “é necessário construir uma aldeia da educação, onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas. Como afirma um provérbio africano, para educar uma criança, é necessária uma aldeia inteira.”

A construção existencial não é pessoal e isolada, mas uma sinergia: a identidade de uma pessoa é construída coletivamente (família, amigos, escola, sociedade). É prematuro dizer que está surgindo uma nova antropologia da busca e do encontro, pois o isolamento pode educar equivocadamente para um crescente individualismo.

As religiões e as religiosidades supõem uma sinergia entre a construção individual e a contribuição coletiva. O Catecismo explica a importância entre o “Creio e nós cremos”. Para a fé cristã, o coletivo é determinante para a construção do indivíduo.

Um dos desafios da evangelização neste tempo pandêmico é refletir e contribuir com a reconstrução do indivíduo a partir do coletivo. O isolamento e o confinamento podem levar a uma convicção equivocada de que o indivíduo pode sobreviver isolado. A evangelização deve ser capaz de repropor a dimensão comunitária e criar espaços relacionais.

Pacto Global da Educação contribui diretamente nesta reflexão:[3] Construir uma aliança entre escola, família e sociedade; Educação que coloque a pessoa no centro; Educação que gere compromisso comunitário; Educação comprometida com o Diálogo e a Paz; Educação Comprometida com a Economia Solidária; Educação Comprometida com a Ecologia Integral.
Estes compromissos não se aplicam somente às escolas, mas são convites para que as comunidades de fé se tornem formativas e educativas.

O Espaço das redes e mídias

A presença nas redes e mídias exige cuidados éticos e cristãos. O uso das mídias como meio de evangelizar, no tempo da pandemia, ampliou o espaço virtual de evangelização e o risco da religião e a religiosidade se tornarem um produto comercializável.

A tecnologia e as redes sociais determinam configurações antropológicas pessoais e coletivas de notável relevância na grande cidade. A metrópole deve ser considerada não tanto como um espaço territorial, mas principalmente como um processo ativo. A tecnologia é parte constitutiva dela e sê-lo-á cada vez mais. Num estudo realizado por M. Castells com jovens catalães dos 15 aos 30 anos, constatou-se que a internet cria vínculos frágeis e, ao mesmo tempo, permite ativar laços fortes. Mas o tecido da Igreja está fora da internet, e isso cria problemas dado que os jovens se exprimem dentro dela.[4]

As novas tecnologias, redes e mídias não são apenas um lugar, mas um novo modo de pensar e ser. Este é um grande desafio à comunicação da fé. A ausência de reflexão pode desvirtuar o compromisso ético da Igreja. Não se trata de usar o meio para comunicar e potencializar as ações, mas de agir neste meio que revoluciona a existência humana, mantendo a própria identidade.

Nestes meios, multiplicam-se inciativas criativas para o anúncio da fé e captação de recursos.

Aliás, as iniciativas já existiam, mas se ampliaram com justificativas plausíveis para garantir a manutenção da fé, da caridade/solidariedade e sustento das próprias igrejas. Essas iniciativas se capilarizaram nas redes, ou seja, grupos, comunidades, usam recursos de mídias para darem visibilidade às suas ações e se sustentarem economicamente.

Houve uma acelerada qualificação do uso dos recursos de rede e mídias e crescente democratização destes espaços (transmissões; produções de programas e uso de ferramentas de captação de recursos, por exemplo, Pix).

Este espaço cada vez mais ativo das redes e mídias deve ser meio de atuação e evangelização. Não pode ser apenas instrumento para ampliar a visibilidade, mas lugar efetivo de agir, pensar e manter o compromisso ético fundado nas verdades cristãs, evitando reduzir a evangelização à mídia marketeira.

[Continua]

[1] https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2021/03/01/a-pandemia-e-um-sinal-dos-tempos-que-nos-leva-a-voltar-ao-ethos-do-reino-e-a-fraternidade-com-a-palavra-o-teologo-victor-codina/ Acesso: 08 de maio de 2021.

[2] https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-09/papas-escola-magisterio.html Acesso: 08 de maio de 2021.

[3] Cf.: https://www.educationglobalcompact.org/

[4] Tarrech, Armand Puig e Barnosel, Joan Planellas. Documento de síntese, p. 402 in: Pastoral das Grandes Cidades – Atas do I Congresso Internacional. Portugal: Paulus Editora, 2016

Sobre o autor (Pe. Nivaldo Magela de Almeida Rodrigues, Me):

Mestre em História e Bens Culturais da Igreja/ Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma, graduação em Filosofia PUC MG. Ex-Assessor da Secretaria Municipal de Cultura de Sabará. Experiência de coordenação pedagógica e ensino: PUC MG, Colégio Santa Maria (BH MG), Colégio Franciscano Coração de Maria, Colégio Educar.  Atualmente, Vigário Paroquial da Paróquia Santa Tereza do Menino Jesus/ Diocese de Garanhuns e Assessor do Colégio Diocesano de Garanhuns/PE.

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Fotos: Pixabay

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