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Liderança nas escolas em um cenário de mudanças

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(Por Maria das Graças Drumond Andrade)

Instituições educativas: conflitos e questões

Vivemos um momento único na educação. Nunca na história de nossa sociedade, não só no Brasil, mas também em todo mundo, se falou e se discutiu tanto sobre a educação e, consequentemente, sobre a escola, instituição responsável pela educação formal no mundo contemporâneo.

Desde o final do século passado esta discussão se coloca. A UNESCO, perante os múltiplos desafios suscitados pelo processo de globalização, da queda do muro de Berlim, do fim do socialismo, da expansão do modelo neoliberal, dos avanços tecnológicos, dos meios de comunicação (internet), das tecnologias digitais e pelas mudanças cada vez mais rápidas, reuniu uma comissão de pesquisadores, de diversas partes do mundo, afim de traçar um eixo que conduzisse para a educação do século XXI.  

O trabalho resultou num relatório intitulado Educação, um tesouro a descobrir (1993). Os Quatro Pilares da Educação, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

Segundo Delors, “a educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social”. O Brasil vivia o processo de redemocratização, diante do novo cenário, elabora uma nova Lei de Diretrizes e Base (1996), novas Diretrizes Curriculares Nacionais (1997) que têm como referência o documento da UNESCO (quatro pilares da Educação) e os Parâmetros curriculares nacionais (1998). A escola no Brasil, teve, neste momento, a sua grande oportunidade de mudança.

Vinte anos depois, o que mudou realmente? Muito pouco. As escolas, na verdade, em sua grande maioria preferiram permanecer entre seus muros, protegidas, resistindo às transformações e distanciando-se cada vez mais do mundo real e de seu público alvo, crianças e adolescentes “ligados” na nova era das redes sociais, dos jogos eletrônicos, da gamificação. Para Peter Senge (2005) a grande mudança histórica é a eliminação do monopólio da escola sobre o fornecimento de informações. Para ele há cem anos, as crianças pouco sabiam do que estava acontecendo no mundo mais amplo.

Atualmente, as crianças e os adolescentes, têm, pelo menos, tanto acesso ao conhecimento quanto seus pais e professores. Além disso, as tecnologias da mídia, como computadores, videogames e internet proporcionam uma mistura de divertimento e aprendizagem que as salas de aula não conseguem igualar: são controladas pelo aprendiz, estão disponíveis quando o aprendiz está pronto e estão espalhadas em redes de interesses mútuos entre amigos.

E novamente, diante dos resultados das escolas brasileiras nos exames nacionais (Enem, Prova Brasil, Saeb) e internacionais (PISA), que confirmam que a educação brasileira pouco avançou, o governo resolve intervir buscando provocar a mudança que até então não aconteceu. Para isto cria-se a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e a Proposta de Reforma do novo Ensino Médio (LEI Nº 13.415/2017).

Uma questão se coloca para os que estão à frente das instituições de ensino: construir uma nova escola, em que haja espaço para construção da autoria, da autonomia, da cidadania. Uma escola onde se resgate a crença de que é possível aprender e ensinar. Uma escola em que se exercite a democracia, em que se trabalhe em redes colaborativas, em que se pratique a solidariedade, em que se formem líderes capazes de promover a justiça social.


Foto: Crianças lendo.

Uma escola aprendente, alinhada com o seu tempo, em que as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo, a vivenciarem as mudanças, a estabelecerem objetivos cada vez mais altos e a usar novos e elevados padrões de raciocínio.

Esta escola só será possível se tivermos um diretor(a)-gestor(a) capaz de exercer a liderança educacional para que se saia de uma escola estagnada para uma escola em movimento. Um(a) gestor(a) capaz de romper com a concepção organizativa que acentuava a divisão técnica do trabalho, do início do século passado, fordista-taylorista. Estrutura esta em que o diretor ou diretora, auxiliado por uma supervisora, é alguém que exerce o controle férreo sobre o corpo docente e discente não precisando, para isto, ter grande conhecimento das questões pedagógicas, de gestão de pessoas, de gestão estratégica. Segundo o Prof. Rudá Ricci (1989) nesta concepção:

“o diretor da escola e toda a sua equipe de apoio assumiram funções de controle sobre o trabalho do professor, fiscalizando horário, respeito às normas de preenchimento de diários e outros documentos de controle de desempenho, atrasos na execução do programa curricular e, em alguns casos, até mesmo o desempenho extrasala. Na verdade, tal procedimento traduz-se numa evidente subversão política e funcional; as atividades meias, de apoio à prática pedagógica, passando a dirigir a atividade fim, o exercício de educar.”

O que se observa, hoje, é que estamos no início de uma nova era e muitas escolas ainda se encontram, cautelosamente, agarradas ao passado, que não está somente na sala de aula, mas, que se inicia no processo de gestão e chega à gestão da sala de aula. Mas faz-se urgente mudar. A escola deve estar conectada à sua época. Assim, são grandes os desafios que se colocam no momento, em um cenário em que, segundo Otávio Ianni (2004) a educação institucionalizada se apresenta cada vez mais adaptada às transformações da sociedade liberal:

Tudo o que diz respeito à educação passa a ser considerado como uma esfera altamente lucrativa de aplicação do capital; o que passa a influenciar decisivamente os fins e os meios envolvidos; de tal modo que a instituição de ensino, não só a privada como também a pública, passa a ser organizada e administrada segundo a lógica da empresa, corporação ou conglomerado. (Ianni, 2004, p. 112)

Neste novo contexto, são muitos os desafios que se colocam aos gestores das escolas do século XXI.

Desafios das lideranças

Olhar para o presente com olhos no futuro: isso cabe aos gestores e gestoras, aqueles homens e mulheres que lideram o processo educacional em um cenário de mudanças cada vez mais rápidas. Por definição, líderes conduzem mudanças. As pessoas necessitam de ser desafiadas com objetivos comuns, metas audaciosas.

A escola contemporânea, aprendente, necessita de líderes/gestores e não de diretores. Pessoas que trabalhem com ousadia e coragem, com planejamentos concebidos com a equipe, com objetivos e metas claras, desafiantes. Que sejam capazes de enfrentar cenários desconhecidos sem perder a visão clara da realidade vivida. Capazes de partilharem ideias e fazerem com que sua equipe acredite nelas, e trabalhe para atingir as metas estabelecidas.

Devem ter firmeza sem perder a capacidade de escutar e ter um olhar diferenciado quanto à rotina da escola, de abrir espaços objetivos e subjetivos, em que a autoria de pensamento seja possível. Conhecer melhor o processo ensino-aprendizagem, o sujeito aprendente-ensinante e suas modalidades de aprendizagem. De aceitar e dialogar com os diferentes arranjos familiares e assim exercer, com maior segurança, o seu papel. Há, ainda, de saber ouvir o que os outros não ouvem, identificar o “não dito”, “a trama ideológica que circula na instituição, como nos casos das questões de gênero, mídia, regimentos, livros didáticos.

[Continua]


Sobre a autora (Maria das Graças Drumond Andrade):

Consultora Gerencial Pedagógica do Axis Instituto. Atuou como professora, coordenadora e diretora pedagógica; autora do livro didático de História da rede UNINTER.


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Fotos: Pixabay

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