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Em Instituições Católicas: Gestão de Pessoas

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(Por Dr. Sebastião Castro)

A Gestão de Pessoas

A gestão de pessoas talvez seja a mais importante competência do moderno gestor, inclusive nas instituições confessionais, notadamente caracterizadas pelo papel central que nelas exercem os próprios religiosos e os leigos que com eles partilham a missão.

A despeito de tamanha relevância, porém, o que se observa nas Instituições religiosas é a lacuna de práticas mais básicas para uma correta gestão de pessoas, levando a prejuízos tais como: pessoas desmotivadas, religiosos descontentes, queda nos números de alunos, aumento de custos, apatia, passivos trabalhistas, relações internas conflituosas e pouco transparentes, processos “travados” e tomadas de decisão demoradas, pouco efetivas e, muitas das vezes, equivocadas.

O “isolamento relativo” a que os religiosos se submetem faz com que os mesmos conheçam pouco do mundo atual, suas estruturas, dinâmicas e processos, bem como os anseios, motivações, desejos e contradições que hoje movem os leigos.

O pouco contato com a mundanidade tem seu lado negativo, ainda,  ao criar um certo descompasso em termos de compreensão do mundo “mais amplo”, em que estão imersos os alunos, professores e funcionários, prestadores de serviços, pais, enfim, todas as pessoas “externas” ao convento, fazendo com que os religiosos tenham dificuldade de avaliar e de compreender as motivações e os anseios dos leigos que com eles laboram.

Esse mesmo descompasso também explica, em parte, o fato de as Congregações serem constantemente lesadas por maus prestadores de serviço ou por maus profissionais, cuja “ética” passa a quilômetros da ética do convento, que acaba por se tornar foco de bajuladores profissionais que, muitas das vezes, ascendem ao centro e ali exercem plenamente seus poderes “ditatoriais”, com o aval dos próprios religiosos bajulados.

Desafios…

A resistência ao “novo” (religiosos mais jovens, novos processos, tecnologias e metodologias educacionais),  frequentemente encontrada nas Congregações, constitui-se em elemento igualmente dificultador das relações interpessoais, no nível profissional, e acaba por se tornar fonte permanente de conflitos, quiçá nas próprias comunidades religiosas, onde fossos são criados entre as gerações de religiosos, fossos mediados pelo silêncio.

Contrariamente ao que pensa o senso comum, muitas vezes o “não-dito” se torna obstáculo, interdição, e é “dito” de outras formas: em entonações de voz agressivas, em sorrisos forçados, em olhares dardejantes, em bilhetes ríspidos, em frases curtas e rascantes, em doenças psicossomáticas, em dores físicas e dores d´alma….

O poder e o apego quase irracional a cargos e posições também estão na base de muitos desajustes na gestão de pessoas. Os resultados dessas posturas desequilibradas não poderiam ser diferentes: equipes desmotivadas, enormes “ruídos” na comunicação interna (subgrupos, esfacelamento, instituição compartimentada em setores estanques), conflitos “silenciosos”, processos atravancados, perdas incessantes de alunos, reclamações de todos os lados, fechamento de obras…..

O poder mal exercido tem uma face voltada para as próprias comunidades religiosas, onde provoca seus danos, depauperando  e lentamente erodindo relações, adoecendo os pares,  e outra face voltada para os  leigos, onde igualmente corrói laços e azeda  relacionamentos profissionais.

Mudanças de comportamento

Empreender mudanças comportamentais requer programas de formação continuada e instrumentos gerenciais que tornem a gestão menos passional, mais profissional (sem perder o calor humano!) e mais equânime;  acima de tudo, tais programas de mudanças demandam novas posturas dos gestores, sejam  religiosos, sejam leigos.

As Congregações vivem momentos de incerteza quanto ao futuro,  num mundo cada vez mais complexo, intrigante e instigante. Sua capacidade de correta avaliação de cenários internos e externos e sua força interior no sentido de empreender mudanças de base, necessárias para garantir a sua sobrevivência neste “novo mundo”, são fatores chave para a perpetuação de suas Obras. Neste sentido, investir na formação para a gestão de pessoas é igualmente fator de sobrevivência.


Artigo publicado na Revista Informativa da ANEC


Foto: Pixabay

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