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Importância da coerência entre nossa fala e nossa prática de vida

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(Por João Bosco de Carvalho)

 “Uma mãe levou o seu filho ao Mahatma Gandhi[1] e implorou: – Por favor, Mahatma, diga ao meu filho para deixar de comer açúcar. Mahatma Gandhi fez uma pausa e disse: – Traga seu filho de volta daqui duas semanas. Intrigada, a mulher agradeceu e disse que faria como ele ordenara. Duas semanas depois ela voltou com o filho. Gandhi fitou os olhos no jovem e disse: Pare de comer açúcar. Agradecida, mas perplexa, a mulher perguntou: – Por que me pediu para trazê-lo em duas semanas? Poderia ter dito a mesma coisa antes. – Gandhi explicou: Há duas semanas eu também estava comendo açúcar”. (As Mais Belas Parábolas de Todos os Tempos – Alexandre   Rangel)

 

O ensinamento do relato deste texto é de fundamental importância para  a nossa vida. É essencial manter a coerência entre o falar e o agir. As atitudes consequentes do nosso viver revigoram e iluminam a nossa fala. Aquele que vive profundamente o que diz convence as pessoas, pois o seu falar é revestido de “autoridade” e fortalecido pela veracidade dos seus atos. As pessoas percebem, no brilho dos olhos de quem fala, se o que ele está dizendo brota do interior do coração ou de um vazio sem vida e encantamento.

Coerência entre a fala e a prática

Nossa fala deve vir sempre acompanhada da ternura e da bondade e, principalmente, da sinceridade e da transparência de nossa vida. Somente assim, produzirá frutos eficazes e transformadores. As belezas das palavras podem, quem sabe, emocionar as pessoas. Todavia, os exemplos dos gestos acolhedores, vividos com transparência, seduzem e convencem com maior eficácia.

Mahatma Gandhi deu-nos uma grande lição, ou seja, só teremos “autoridade” para sugerir mudanças na vida das pessoas, na medida em que estivermos vivendo os caminhos que estamos propondo aos outros.

Jesus Cristo sempre demonstrou uma compreensão muito grande com os limites e as franquezas do ser humano, mas, não suportava a incoerência e a arrogância dos fariseus e dos doutores da lei. Em várias ocasiões, os evangelhos mostram-nos que Jesus sempre questionava os que colocavam fardos pesados sobre os ombros dos outros, mas sem vivenciar o que exigiam das pessoas. “Ai de vocês especialistas em leis! Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas nem com um só dedo” (Lucas 11.46).

 No evangelho de Mateus Jesus foi mais explícito ao dizer “Por que fica olhando o cisco no olho do teu irmão, e não presta atenção à trave que está no próprio olho?” (Mateus 7.3)

Outro fato que confirma que o exemplo de vida é fundamental nós encontramos na bíblia, mais precisamente no livro dos ATOS DOS APÓSTOLOS.

 

   “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição. E todos gozavam de grande aceitação. Entre eles ninguém passava necessidade.” (Atos dos Apóstolos 4,32-34)

As atitudes coerentes

Como o exemplo da vida dos primeiros cristãos atraía os olhares das pessoas! Eles tinham uma vida fundamentada na fraternidade e no amor. Viviam, plenamente, os valores da boa nova do evangelho.

As atitudes coerente de vivenciar o que sugerimos aos outros é fundamental em todos os aspectos da nossa vida. Mas, vamos mencionar algumas mais importantes:

 

  • Na educação dos filhos, tendo em vista que é fundamental educar, antes de tudo, pelo exemplo de vida do que pelas palavras.
  • No exercício do magistério, sendo coerente no que ensina e fala com o que se vive. 
  • No ambiente da família onde, também, é essencial haver essa coerência entre o que se fala e o que se vive. Ter um coração compreensivo, ser autocrítico e empático no ambiente familiar é garantia de bem estar e para tornar a família um espaço prazeroso para viver.
  • Outro setor importante para manter essa coerência é onde passamos a maior parte do nosso tempo, ou seja, no nosso trabalho. Transformar o ambiente de trabalho num lugar de paz é tarefa de todos. Viver a coerência, a empatia e a autocrítica são valores essenciais para fazer do ambiente do trabalho um espaço agradável onde viver.
  • Na política: hoje, vemos um descrédito muito grande da população brasileira com relação aos políticos, tendo em vista que, na sua grande maioria, falam e propõem uma coisa, mas vivem outra completamente oposta ao que falam.

 

Foto: Pessoas trabalhando na cozinha.

Ao contrário dos políticos, temos o exemplo maravilhoso do nosso querido Papa Francisco. Ele é uma liderança mundial pelo seu exemplo de vida simples e edificante, na defesa da preservação da natureza e na construção de uma sociedade mais justa e pacífica. Até pessoas não cristãs o admiram pelo seu testemunho de vida.  Muitas vezes ele consegue “dobrar” os seus seguranças e ir para junto do povo, nas ruas, abraçando e acolhendo a todos.

Portanto, é de vital importância estar atento e consciente sobre a coerência da nossa fala em relação à nossa vida. Estou dando essas sugestões de reflexões, antes de tudo, para mim mesmo. Eu, também, como todo ser humano, devo estar atento à coerência entre o meu falar e a minha vida. É uma tarefa difícil, mas, que precisa ser assumida por todos.

Todos nós somos eternos aprendizes na busca constante desse modo de viver. Compensa buscar essa coerência de vida. Ela transmite muita paz e serenidade para quem procura vivenciar essa maneira de ser. As atitudes respeitosas e amorosas da nossa fala, alicerçadas na coerência dos nossos atos, são os princípios fundamentais para a veracidade e a vitalidade dos nossos questionamentos. Se não tivermos vivendo o que falamos, nossa fala terá poucos resultados. Serão questionamentos sem vida e sem “autoridade”.

 

[Continua]

[1] Mahatma Gandhi foi um reconhecido ativista indiano que lutou durante décadas pelo fim do regime colonial inglês e pela independência da Índia. O ativismo de Gandhi ficou particularmente conhecido por ter desenvolvido um método de manifestação não violento conhecido como Satyagraha.

Sobre o autor (João Bosco de Carvalho):

Teólogo, filósofo; ex-frade capuchinho; ex-diretor do Centro Educacional H. Antipoff, em Couto de Magalhães (MG); elaborador de projetos sociais para diversas instituições, com projetos aprovados por apoiadores da Itália, Alemanha, Austrália e Brasil; docente em elaboração de projetos.

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Fotos: Pixabay

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