(Por Dr. Sebastião Castro)
A Inteligência Artificial (IA)
Temos presenciado, nos últimos anos, o advento, a ascensão e presença, cada vez mais abrangente, da Inteligência Artificial (IA), em todos os campos: na Medicina, no comércio, na indústria, na pesquisa, na agricultura de alta precisão, em sistemas de abastecimento de água e de iluminação pública (“em conjunto” com a internet das coisas), na educação (avaliação, perfis de alunos, professores, etc), na segurança pública, na condução autônoma de veículos, como assistentes virtuais inteligentes, como robôs (bots) de atendimento telefônico a clientes, como algoritmos da Netflix, do Google e do Youtube para nos sugerir fontes, filmes e vídeos, em processos de recrutamento e seleção, etc.
Os campos em que a IA se faz presente são praticamente todos! Em comum entre esses usos estão situações que demandam respostas velozes, análises de grandes volumes de dados em tempo reduzido e resolução de problemas a partir de aprendizado autônomo.
O uso da IA
Matérias jornalísticas recentes informam sobre a utilização, em Cingapura, de cães robóticos para estimular o distanciamento social devido à Covid, em parques; também em Cingapura, “robôs policiais”, em vigilância pública; de cães robôs armados com rifles para a segurança patrimonial; predição de crimes por sistemas de IA; o projeto Neuralink, de Elon Musk, que pretende implantar chips com IA no cérebro humano, para aumentar a sua velocidade e capacidade de processamento, a partir da interface cérebro-computador, tendo já iniciado seus experimentos com primatas; reconhecimento facial de pessoas em praças e espaços públicos para identificação de criminosos, dentre tantos outros usos que, rapidamente, avançam e nos levam à pergunta: isso não poderá, também, representar um risco ao ser humano?
É já conhecida a relevância da IA para o presente, em todas essas atividades e campos e sua preponderância, no futuro, não apenas nas aplicações já existentes, mas em usos que, hoje, ainda nem sonhamos, e que irão, certamente, muito além das possibilidades do hoje concebido metaverso.
Lugar da Ética na IA
No entanto, tudo parece concorrer para que a IA passe a estar presente de forma absolutamente ubíqua em nossa vida. A IA pode ser entendida como uma ferramenta e, como tal, se presta a múltiplos usos e a múltiplas escolhas. Como ferramenta, pode ser considerada “neutra”, ou seja, não tem “valor ou ideologia intrínsecos”. Ao ser utilizada, porém, pode assumir papeis, moral ou eticamente, questionáveis.
É nessa dimensão do seu uso que discutiremos o lugar da Ética em sua relação com a IA.
A Ética tem lugar e relevância em quaisquer sistemas capazes de tomar decisões, desde as mais simples, como liberar ou não exames laboratoriais para um paciente, até as mais complexas como, por exemplo, desviar o carro para não atropelar uma pessoa, mesmo que isso signifique lançar um carro autônomo contra um muro, destruindo-o.
Os parâmetros e critérios envolvidos nas tomadas de decisão passam pela discussão de suas implicações e consequências, à luz da Ética. É neste sentido que, hoje e no futuro, condutas éticas de sistemas de inteligência artificial precisam ser discutidas e postas para a sociedade, no intuito de buscar garantir que valores e princípios humanos pautem tais sistemas.
Para efeitos deste artigo, IA se refere a comportamentos de dispositivos eletrônicos ou sistemas que se assemelham ao pensamento e comportamento humanos. Em outras palavras, a capacidade de a IA perceber variáveis, de tomar decisões e de resolver problemas, operando com uma lógica similar àquela do raciocínio humano, inclusive aprendendo por si mesma, através de tecnologias diversas tais como redes neurais artificiais, algoritmos, sistemas de aprendizagem de máquina, sistemas de reconhecimento de voz e de visão, etc.
Algoritmo é uma sequência ou conjunto finito de regras, operações, procedimentos lógicos, precisos e não-ambíguos, e ações executáveis que levam à solução de problemas em um número de etapas previamente estabelecido.
E Ética, neste artigo, é a disciplina que procura investigar, discutir, debater e refletir a respeito da essência das normas, valores, costumes e princípios que guiam o comportamento humano em qualquer situação social. Concomitantemente, constitui-se também em um conjunto de padrões, regras e preceitos, carregados de valor e moral, de indivíduos ou de uma sociedade (CNBB-Ética: pessoa e sociedade. Itaici, 1993; ARANHA, M. A. Introdução à filosofia. São Paulo, 2009).
[Continua]
Sobre o autor (Dr. Sebastião Castro):
Doutor, área de Políticas Públicas; Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações; Governance, Risk and Compliance (Lisboa); Mestre em Meio Ambiente (UFMG); Especialista em Recursos Hídricos (Aston University, Inglaterra); Especialista em Gestão e Manejo Ambiental (UFLA); Perito Judicial Ambiental; Professor Ex-Diretor de Escolas; Coordenador de Projetos Internacionais de Educação; Viagens técnicas (meio ambiente e educação) a mais de 30 países; Consultor, há mais de 20 anos, nas áreas de Gestão e Educação, para mais de uma centena de escolas e IES católicas. Autor de “Gestão de Pessoas em Instituições Confessionais” e “Perda de Alunos nas Escolas Católicas”.
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Fotos: Pixabay e Unsplash