A centralização de serviços e o impacto na qualidade das escolas confessionais

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(Por Márcia Amorim, Dra.)

O mundo conectado

O mundo está se conectando em rede. Hoje fala-se de rede para tudo: a net no mundo virtual, as redes de serviços de saúde, as redes de educação básica e superior são alguns exemplos. A essência das redes está baseada na força da união entre os pares. É aquela velha história de que um fio é fácil de ser cortado, mas quando juntamos muitos fios fica muito mais difícil rompê-los.  

Não é diferente para as Instituições de educação no Brasil. Experimentamos um crescimento acentuado na implantação das redes de educação nos últimos anos, indo da educação básica à superior, chegando às incorporações por grandes grupos internacionais. Esta forma de organização permite a centralização de serviços administrativos, financeiros e educacionais gerando economia, agilidade, melhor desenho de funções e atribuições. 

É importante avaliarmos alguns aspectos técnicos, legais e até canônicos para compreender esta forma de organizar as escolas, com suas vantagens e riscos. Criar uma rede de educação é muito mais do que estabelecer a centralização de alguns serviços, mas sem este passo é impossível conquistar ganhos para o grupo que se forma. Avaliamos alguns destes aspectos a seguir, a fim de contribuir para a tomada de decisões das Escolas Católicas na busca constante de qualidade e sustentabilidade

Gestão eficiente como parte da missão

As instituições educacionais confessionais carregam como parte de sua missão cristã o serviço de qualidade que prioriza os que mais necessitam. Ao falar de suas expectativas para o ano da Vida Religiosa Consagrada (VRC, 2014), o Papa Francisco disse que, “esperava gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração. E almejava, (i)a racionalização das estruturas, (ii) a reutilização das grandes casas em favor de obras mais consoantes às exigências atuais da evangelização e da caridade, (iii) a adaptação das obras às novas necessidades.”

A busca pela melhoria da gestão, traduzida pelo desejo de centralizar atividades comuns e de criar uma rede de educação, encontra eco nas palavras do Papa Francisco. Desta forma, torna-se necessária a permanente reflexão sobre a condução do serviço prestado, a qualidade e a sustentabilidade que garantirão o cumprimento da missão pelo maior tempo possível. 

É neste cenário que as escolas precisam avaliar a reorganização de sua gestão. E como organizar a gestão a partir da centralização dos serviços? Vejamos os principais conceitos e formatos suficientes para implantar uma Central de Serviços Compartilhados nas mantenedoras. 

Revisitando os conceitos de centralização e descentralização no ambiente escolar

O processo educativo comprometido com o desenvolvimento integral das pessoas pressupõe o compromisso com a realidade de cada comunidade e o respeito às individualidades e regionalidades. Esse aspecto combina com os conceitos mais modernos de educação no mundo, primando pelo protagonismo dos educandos e o dinamismo do processo de formação de cada indivíduo. Desta forma, a descentralização operacional na educação ganhou força e tem sido abordada por diversos teóricos. 

A descentralização é tema de grande interesse no campo da educação. Não é, entretanto, um tema novo, nem desfruta de consenso acerca do seu significado, sequer no campo da administração ou da política de onde parte, com suas raízes. Por sua vez, no campo da educação, é crescente o interesse na sua abordagem, sobretudo a partir da Constituição de 1988, por força do reconhecimento do município como ente federativo e, consequentemente, dos impactos que esse reconhecimento produziu sobre a gestão da educação e os sistemas de ensino, como indicam muitos autores. 

Descentralizar as escolas, ou seja, estabelecer uma rede de escolas que estejam nos locais onde os alunos estão faz todo o sentido com as propostas de processos educativos comprometidos com a comunidade. Entretanto, nos aspectos relacionados à gestão, monitoramento e controle das estruturas, a centralização dos serviços passou a ser vista como uma forma efetiva e menos dispendiosa para organizar as escolas de uma mesma congregação distribuídas em diversas localidades. 

Neste contexto, ela assume uma condição instrumental capaz de resolver diferentes problemas que afetam as unidades escolares. Quando usada como processo, ou como meio, a centralização de serviços pode proporcionar condições favoráveis ao êxito da gestão educacional e, consequentemente, possibilitar que a ação descentralizada do processo educativo aconteça nas unidades. 

São termos e ações complementares, portanto. Monaco considera que centralização e descentralização são conceitos tão associados que só podem ser explorados integralmente no plano teórico. Considera ainda que a centralização e a descentralização se apresentam em estado imperfeito por não encontrar um sistema político-administrativo que esteja orientado estritamente por um ou outro conceito. 

Expandir é um movimento que “leva para fora” e  centralizar nos remete ao movimento inverso. Para que essa associação funcione bem na construção das redes de escolas é necessário concentrar a atenção em pontos essenciais. Manter o respeito à cultura de cada região quando se expande para lugares distintos é fundamental. Da mesma forma, é fundamental inserir profissionais alinhados com a comunidade de cada localidade e proporcionar aos educandos e familiares um sentimento de pertencimento à comunidade escolar de forma integral e participativa.  

 

[Continua]

Sobre a autora (Márcia Nogueira Amorim, Dra):

Doutora em Administração e Mestre em Epidemiologia. Professora Universitária; Conselheira Estadual de Educação; Gestora de Colégios da Rede Privada e de Instituições de Educação Superior; Consultora do Axis Instituto.

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Fotos: Pixabay e Unsplash

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