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Meios para anunciar a Salvação

6 minutos para ler

(Por Francesca Giani, Dra)

Administrar um patrimônio?

Quais são as dificuldades que um instituto religioso enfrenta quando tem que administrar um patrimônio imobiliário de dimensões superiores às suas próprias necessidades? 

O declínio das vocações, o envelhecimento dos consagrados e as dificuldades para renovar os trabalhos para responder às necessidades atuais são razões que afetam o patrimônio imobiliário e que, em parte, são a causa de sua subutilização ou de seu não uso. 

Para entender a extensão do tópico, infelizmente não há dados gerais disponíveis, fornecidos por diferentes proprietários, e que se constituam em inventários de imóveis. Graças à comparação dos dados fornecidos pelo Annuarium Statisticum Ecclesiae podemos reconstruir a tendência de destinação de uma parte deste patrimônio imobiliário estudando o número de casas de institutos religiosos de direito pontifício presentes na Itália.

Em 1985 essas casas somavam 17.585 imóveis, contra o número de 10.293 identificados em 2015. Nesses 30 anos, casas de institutos religiosos de direito pontifício presentes na Itália diminuíram mais de 40%%.  7.292 casas não têm mais a função de abrigarem comunidades religiosas (essa função cessou para 46% das casas femininas e 25% para as masculinas). Somente em 2014 foram fechadas 289 casas. 

Trata-se de um grande conjunto de propriedades que tiveram importante papel de apoio aos religiosos no culto ininterrupto do amor a Deus. À presença eclesial somava-se também o valor social, consolidado em décadas ou em séculos, o que torna tal herança de particular relevância também como bem comum

Uso de imóveis dos religiosos 

O tema da reutilização de edifícios dos religiosos tem sido repetidamente objeto da atenção do Pontífice. Em Carta Apostólica de 21 de novembro de 2014 a todos os consagrados, o Papa Francisco, entre as expectativas para o ano de vida consagrada, dizia:

“Espero de vocês gestos concretos de acolhida aos refugiados, de aproximação com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho e na iniciação para a vida de oração. Como resultado, espero que as estruturas sejam simplificadas, e que se possa reutilizar os grandes imóveis a favor de obras que sejam mais receptivas às necessidades atuais de evangelização e de caridade, e que se possa adaptar o trabalho às novas necessidades”

Foto: Uma mão apertando outra mão.

Que dificuldades uma instituição religiosa encontra quando deve gerenciar um imóvel de dimensões que excedem suas necessidades? E como se pode implementar o que foi solicitado pelo Papa? Existem duas grandes dificuldades na área da reorganização e gestão de ativos imobiliários dos religiosos. A primeira é a tentação de não decidir. Quem tem a responsabilidade de governar pode ser tentado pelo medo, como aconteceu com o último dos servos, na parábola dos talentos. O risco é que esse talento fique soterrado: neste caso, é o imóvel que permanece “congelado”.

É uma atitude que pode ser gerada por causas diversas, desde a falta de recursos humanos adequados dentro da instituição, e também fora da mesma, até alguém que saiba como tornar frutífero um capital imobilizado, muitas vezes sem liquidez imediata. Em alguns casos é a não-unanimidade dos conselheiros que impede a decisão. Em outros é a dificuldade em compreender a realidade dos tempos atuais e as consequentes mudanças necessárias que essa realidade implica. 

Por exemplo, continua-se a viver em Conventos que, antes, recebiam muitos religiosos, enquanto hoje a presença é reduzida a poucas pessoas. Grandes áreas per capita podem colocar os religiosos em uma condição de habitação de qualidade superior àquela do cidadão comum, projetando sombras sobre o princípio da pobreza evangélica e escandalizando aqueles que não conseguem ter um lar. 

Oportunidade de discernimento 

A segunda tentação é a de fazer escolhas parciais, sem antes ter feito um discernimento apropriado quanto ao futuro da entidade. A gestão de ativos imobiliários eclesiásticos deve ser iluminada pela consciência do que Deus pede, neste tempo e lugar, ao instituto religioso. 

A partir disso, fazemos as escolhas de gerenciamento de ativos, ou seja, o conjunto de estratégias e atividades destinadas, neste caso, à concretização dos fins institucionais da Igreja e dos carismas particulares dos entes proprietários, através da gestão do patrimônio imobiliário (transformação de uso, alienação, requalificação dos ativos imobiliários, seu fracionamento, etc).

Portanto, é necessário ler os sinais dos tempos e ter claro como articular o próprio carisma com a contemporaneidade, mantendo-se aberto ao Espírito. O risco é de se atuar apenas em casos individuais e não em todo o sistema, talvez sem clareza quanto ao objetivo da sustentabilidade global, e visando à manutenção do existente, continuando uma tradição hoje insustentável

Imóveis e testemunho cristão 

IHS, Iesus Hominum Salvator, é o Cristograma que encontramos sobre as portas de muitos edifícios na península. Ele nos lembra que mesmo os mais importantes trabalhos das mãos do homem são apenas ferramentas para testemunhar que Jesus é o Salvador dos homens.

O trigrama IHS confirma que os bens temporais da Igreja subsistem a fim de alcançar os fins que a eles são apropriados, como relatado no Livro V do Código de Direito Canônico, ao qual é adicionado, para o religioso, o critério supremo do conselho evangélico da pobreza. 

Não obstante que esse gerenciamento de ativos imobiliários de institutos religiosos seja complexo e requeira critérios, responsabilidade e coragem, é possível que essas propriedades continuem a ser uma ferramenta de testemunho Cristão até hoje. 

[Continua]


Sobre a autora (Francesca Giani, Dra):

Arquiteta da Fundação Summa Humanitate e Doutora do Departamento de Engenharia Civil, Edificações e Ambiental da Universidade La Sapienza, de Roma.


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Fotos: Pixabay

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