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A relevância da gestão de risco e auditagem de processos para as Entidades Eclesiásticas

6 minutos para ler

(Por Renato M. Batitucci, Esp.)

A Gestão de riscos na gestão

As entidades eclesiásticas vivenciam, nos tempos atuais, situações específicas bastante desafiadoras, que têm exigido reflexões mais profundas e, muitas vezes, por consequência, adaptações e ajustes em sua própria estrutura, com impactos também na cultura organizacional e na forma de gerir e governar as suas diversas obras.

Dentre tais desafios, abordados ao longo deste artigo, podemos citar:

  • O crescente rigor e novas exigências legais e técnicas;
  • A diminuição das vocações religiosas;
  • O acirramento da concorrência e o aumento de exigências mercadológicas;
  • A necessidade de reduzir o tempo de reação no enfrentamento de dificuldades diversas.  

Estes fatores, presentes em maior ou menor escala conforme perfil e porte da entidade, impulsionam as organizações a qualificarem os seus processos de controle e gerenciamento, visando melhor prevenção e minimização de incertezas e maior assertividade e confiabilidade do processo decisório.

A gestão de riscos e a auditagem de processos podem contribuir, sobremaneira, para a necessária e desejada qualificação do processo de gestão.

Fatores que impulsionam a necessidade de melhor gerenciamento de riscos e auditagem de processos

É fato que os órgãos reguladores têm exigido, cada vez mais, maior rigor e consistência nas prestações de contas, exigindo dados e informações mais consistentes e fidedignas, que demonstrem de forma cabal a congruência entre o discurso e a prática e a devida conformidade com os preceitos e normas legais aplicáveis, seja para comprovação e renovação de certificados de filantropia, para comprovação de recursos de convênios diversos, dentre outros.

Para tanto, os projetos, independente de seu perfil – social, saúde ou educacional, precisam demonstrar um grau mínimo de organização e sistematização e, ainda, pela própria necessidade de sobrevivência, obterem resultados satisfatórios. Soma-se a este crescente rigor, novas exigências legais e técnicas.

As atualizações e discussões em curso em torno das filantrópicas, da legislação contábil, reforma trabalhista, e-social, para citar algumas, são exemplos de mudanças que impactam as entidades eclesiásticas.

Este contexto tem levado uma série de instituições, inclusive, a reavaliarem o seu próprio modelo de organização interna, a partir de uma nova configuração que fortaleça a identidade e melhor proteja o patrimônio e a governança institucional.

Dados das vocações religiosas

Outro aspecto que tem merecido atenção especial das entidades diz respeito à diminuição das vocações religiosas. O Anuarium Statisticum Ecclesiae 2015 (L’Osservatore Romano – JE) aponta para uma queda das vocações. Em relação aos sacerdotes diocesanos e religiosos observam-se os seguintes dados:

  • Entre os diocesanos, no total, registra-se um aumento de 1,6%, passando dos 277.009 em 2010 aos 281.514 em 2015.
  • Já entre os religiosos constata-se uma constante diminuição (-0,8% no período), chegando-se aos 134 mil em 2015.

A mesma tendência é verificada em relação às religiosas professas:

  • Em nível global, passaram de 721.935 em 2010 para 670.320 em 2015, representando uma queda de 7,1 pontos percentuais.
  • A América do Sul e Central mostraram uma diminuição, passando de 122.213 religiosas em 2010 para 112.051 em 2015, com um decréscimo de 8,3% no período e 1,7% a cada ano.

Prossegue também a queda nas vocações sacerdotais:

  • A taxa de vocações cai de 99,5 seminaristas por milhão de católicos em 2010, para 90,9 em 2015.

Foto: Dados escrito Risco em inglês.

Este fator tem impacto direto na gestão das obras, na medida em que, cada vez mais, menos religiosos(as) estão à disposição para participarem de forma direta, intensa e ativa da administração das obras.

Uma das consequências desta redução das vocações é a necessidade, cada vez maior, de as entidades contarem com o trabalho e a parceria dos leigos, implicando em maior descentralização e delegação de tarefas e poderes, o que exige o aperfeiçoamento de processos de monitoramento, controle e gestão.  

Somam-se às imposições técnicas-legais e ao desafio vocacional o acirramento da concorrência e o aumento de exigências mercadológicas. Na área educacional, como exemplo, é nítido o crescimento e fortalecimento de grandes grupos educacionais leigos, novas exigências relacionadas à base nacional comum curricular e ao ensino médio, a demanda por formação bilíngue e inovações tecnológicas e metodológicas.

Tais aspectos, dentre outros, impactam o modelo de gestão e impulsionam e direcionam para a necessidade de melhor estruturação dos processos de governança e gestão das entidades eclesiásticas, sob o risco de perda de competitividade.

No contexto atual, o tempo de resposta e reação às novas exigências, tendências, desafios e expectativas é, pois, outro fator determinante para a própria sobrevivência de diversas obras católicas. Não é mais possível reagir de forma lenta e extremamente cautelosa, ou mesmo adotar uma postura de passividade ou neutralidade frente a tantos desafios.

Em muitas das situações não é possível deixar como está para ver no que vai dar! Vemos, a todo o momento, diversas unidades escolares, hospitalares e outros projetos enfrentando sérias dificuldades para se manterem sustentáveis e fortalecidas, potencializadas muitas vezes pela demora em perceber ou aceitar indicadores desfavoráveis, pela ausência de um plano de ação de revitalização e fortalecimento, minimamente consistente e capaz de enfrentar tais desafios, ou mesmo pela incapacidade de reagir a sinais por novos anseios e mudanças.

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.” Confúcio

(Continua)


Sobre o autor (Renato Batitucci):

Sócio Diretor do Axis Instituto, administrador, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios e em Engenharia da Qualidade, especialista em Gestão do Terceiro Setor.  Atua, há mais de 15 anos, na coordenação e no gerenciamento de projetos de apoio e assessoria a Entidades Eclesiásticas. 


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Fotos: Pixabay

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