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Organizações Eclesiais: novos paradigmas

6 minutos para ler

(Por Dom Edson Oriolo)

As mudanças

Desde o início de seu pontificado o Papa Francisco vem apresentando intuições sobre a melhor maneira de organizar para “oxigenar” a ação evangelizadora da Igreja. Suas encíclicas, exortações, motu proprio, conferências, apresentam novas intuições sobre a organização eclesial. Sem muito atraso, o novo papa nos deu a exortação apostólica Evangelii Gaudium com ecos das proposições do Sínodo sobre a Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã.

Nessa exortação, apresenta quatro eixos que sintetizam a visão pastoral do papa: o tempo é superior ao espaço[1], a unidade prevalece sobre o conflito[2], a realidade é mais importante que a ideia[3] e o todo é superior à parte[4]. Na presente reflexão, pretendo analisar a máxima “o todo é superior à parte”: exímio paradigma para a história de nossas organizações eclesiais. Um autêntico upgrade para a compreensão da natureza, finalidade e missão da Igreja.

Aristóteles, pensador que antecedeu o ápice da revelação e viveu antes da Igreja de Cristo, é o autor dessa máxima. Afirmou que: “o todo é maior do que a simples soma das suas partes”. O Papa Francisco ao retomar a premissa quer chamar a atenção sobre a relação entre o global e o local, que gera tensão. Levando em conta a dimensão global, evita-se cair em uma mesquinha cotidianidade. Somos chamados a alargar nosso olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós. Prestar atenção no global. “Não se deve viver demasiado obcecado por questões limitadas e particulares. É preciso alargar sempre o olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós”[5].

 Até pouco tempo, as mudanças aconteciam de maneira lenta e com um avanço cuidadoso, preparando o terreno para o que viria a seguir. Hoje, as mudanças são vertiginosas. Contudo, quando as pessoas e as coisas mudam, elas estão exigindo de nós transformações e não há dúvida de que com isso também ficamos melhores.

Nessa pressão para ser diferentes, somos levados a ver a floresta para ver as árvores. Isso significa que não se pode encaixar as pessoas dentro de padrões pré-estabelecidos como uma colmeia ou um formigueiro que se auto-organizam e em nada se transformam[6].

No entanto, durante muito tempo, fomos formados dentro de um pensamento cartesiano-mecanicista, isto é, pelas partes temos a compreensão do todo. O pai dessa metodologia organizacional foi o francês René Descartes. Um pensador que, embora prime pela objetividade da racionalidade, tendia a olhar a realidade pelo ângulo mais favorável. Foi nesse sentido que escreveu o “Discurso do Método”.

Nesta obra, ensinou uma metodologia para chegar à verdade. Com esses procedimentos, ele quer mostrar como podemos conhecer a verdade da realidade. Na segunda parte do “Discurso do Método”, Descartes apresenta argumentos que julgam necessários para discernir entre o verdadeiro e o falso. São quatro preceitos lógicos:

  1. Jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conheça evidentemente como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção[7];
  2. Dividir cada uma das dificuldades que eu examinar em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fosse para melhor resolvê-las[8];
  3. Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como degraus, até o conhecimento dos mais compostos[9];
  4. Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tenha a certeza de nada omitir[10].

Descartes ensinou preceitos metodológicos que ajudam na busca da verdadeira realidade. Podemos entender que conhecemos da realidade primeiramente as partes para depois ter a noção do todo. Na administração das organizações eclesiais, acredito que não seja a melhor maneira para entender todo esse mecanismo, mesmo sabendo que essas partes estão interligadas entre si na formação do todo.


Foto: Linhas de luz

Mudanças de Paradigma

Para dinamizar as organizações eclesiais, de maneira especial as cúrias diocesanas, paróquias e comunidades eclesiais missionárias, numa perspectiva da contemporaneidade, necessitamos de uma mudança de paradigma ou mentalidade. Essa transformação é o maior desafio na administração de nossas organizações no mundo contemporâneo.

Atualmente, as organizações eclesiais estão sendo pressionadas por uma burocracia ainda maior que séculos passados, mas a saída é a tecnologia de informação. Temos que ampliar nossa visão de organização. Uma reestruturação dentro das organizações eclesiais é sair do pensamento cartesiano mecanicista e partir para um pensamento diferente. Assim, podemos modificar, adaptar, mudar e melhorar as nossas organizações eclesiais.

Leonard Mlodinow, em seu best-seller “Elástico”, fala do pensamento diferente, isto é, elástico. Para ele, os seres humanos têm dois modos de pensar: a) o pensamento analítico, no qual seguem as regras da lógica para analisar problemas pelos quais já havíamos passado e o b) pensamento elástico, em que se formulam ideias e paradigmas para enfrentar novos desafios.

Esse último é cada vez mais útil no ambiente de hoje, que está em rápida transformação. Embora as pessoas sejam diferentes em suas aptidões para o pensamento elástico, essa capacidade pode ser nutrida e aperfeiçoada[11].

Assim sendo, pessoas e companhias, principalmente organizações, que não são capazes de se adaptar ou aplicar pensamentos, metodologias diferentes e inovadoras, morrem. Um excelente pensamento para nossas organizações eclesiais, atualmente, significa pensar de maneira sistêmica. Necessitamos dar passos e mais passos.


[1] Papa Francisco. Evangelii Gaudium. p. 222-225

[2] Idem, 226-230

[3] Idem, 231-233

[4] Idem, 234-237

[5] Idem, 235

[6] Oriolo, Edson. Gestão paroquial para uma Igreja em saída. p. 109

[7] DESCARTES, Renê. Discurso do Método. p. 23

[8] Idem

[9] Idem

[10] Idem

[11] MLODINOW, Leonard. Elástico. p. 9-19


[Continua]


Sobre o autor (Dom Edson Oriolo):

Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG, Mestre em Filosofia Social PUC-Campinas, Especialista em Marketing pela Universidade Gama Filho pela qual tenho Pós graduação em Gestão de Pessoas e Leader and professional Coach pela Act coaching Internacional. Autor de centenas de artigos e ensaios para diversas revistas e periódicos sobre gestão eclesial, pós-humano, paróquias, pastoral urbana e pastoral do dízimo.


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Fotos: Pixabay


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