(Por Adilson Souza, MSc)
Ministério laical
O Ministério Laical de Catequista, instituído pelo Papa Francisco no dia 10 de maio de 2021, reconhece a importância das pessoas que o conduzem, bem como ratifica a importância da catequese em si. O Motu Próprio inicia-se com o reconhecimento da antiguidade e tradição desse ministério, tão antigo como e uma das missões imprescindíveis para a instalação e perenidade da Igreja.
O Papa cita, na introdução, um trecho de Paulo aos Coríntios (1, Cor, 12 28-31) como uma comprovação inicial da atividade pastoral dos ‘mestres’ dizendo: “E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, doutores […].” Doutores (‘mestres’), aqui, são os encarregados em cada Igreja, do ensinamento regular e ordinário (vide At, 13, 1+).
Outra passagem ‘metodológica’ citada no documento é do apóstolo Lucas (1, 3-4), na abertura do seu Evangelho quando se dirige a Teófilo: “a mim também pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebestes”.
Lucas demonstra, pode-se inferir conforme grifo do autor, que, através dos seus estudos e registros, estaria metodologicamente ensinando e possibilitando a propagação da palavra e da missão a todos nós confiadas. Chama a atenção, nessa passagem de Lucas, e nas entrelinhas por ele colocadas, o zelo e a preocupação em instruir de forma correta e calcado em fatos que foram solidamente pesquisados para que a instrução pudesse ser imaculada e adequada.
Essa ‘acurada investigação’ citada pelo apóstolo, denota a importância de que os catequistas dos nossos tempos não se atenham à reprodução automática e mecânica daquilo que receberam e que hoje transmitem. O Evangelho é o mesmo, mas os tempos são outros.
O Papa Francisco em uma de suas inúmeras entrevistas (2014) disse: “Vivemos não só uma época de mudanças, mas uma mudança de época.” Assim, como catequizar no século XXI usando as mesmas ferramentas dos séculos de outrora? Como não aprofundarmos nos diversos documentos da Igreja e fazermos uma acurada investigação (como São Lucas destacou à Teófilo) antes de levar a palavra aos outros?
O apóstolo Paulo, em recomendação aos Gálatas e, por analogia, aos catequistas, ensina: “Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens” (Gal 6, 6). O Motu destaca, nessa passagem, uma peculiaridade fundamental, quer seja, a comunhão de vida como característica da fecundidade da verdadeira catequese recebida.
Assim, vejamos: se o múnus de catequizar pressupõe uma sintonia de ações entre aquele que ensina e o que apre(e)nde, exigências maiores impelem, portanto, que o formador se atenha a uma vida pautada por princípios que, quando replicados ou vivenciados pelos catequisandos, o possam fazer de maneira irrepreensível ou, no mínimo, coerentes com a tradição e filosofia cristã católica.
O catequista e o catequisando
Essa garantia da unidade e harmonia de ações entre o catequista e o catequisando é, de certa forma, apresentada no item 2 do documento quando vemos, sobre a forma difusa de ministerialidade ao longo da história e a serviço da edificação da Igreja, ensinada pelo apóstolo Paulo que, mesmo com a diversidade de dons, de serviços, do modo de agir, tudo é realizado por Deus.
Ou seja, “é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz” (1 Cor 12, 11). Daí, não estamos soltos ou fazendo conforme a nossa inspiração e sob a nossa única e inteira vontade. Uma força maior, um sopro santo, o ruah nos leva e nos impele a agir.
O documento reconhece e ratifica a importância, ao longo dos dois milênios, da efetiva missão dos catequistas, sejam membros do clero, religiosos(as) de vida consagrada, bem como uma infinidade de leigos(as), esses(as), de maneira ainda mais presentes e reconhecidos(as) após o Concílio Vaticano II e que abraçaram tão sublime ofício na difusão do Evangelho, através do ensino catequético.
Esta presença laical, destaca o documento,
“torna-se ainda mais urgente nos nossos dias, devido à renovada consciência da evangelização no mundo contemporâneo e à imposição duma cultura globalizada, que requer um encontro autêntico com as jovens gerações, sem esquecer a exigência de metodologias e instrumentos criativos que tornem o anúncio do Evangelho coerente com a transformação missionária que a Igreja abraçou. Fidelidade ao passado e responsabilidade pelo presente são as condições indispensáveis para que a Igreja possa desempenhar a sua missão no mundo.”
Mundo globalizado
E temos, no presente, no mundo contemporâneo e globalizado, uma sociedade fragmentada, com visão muitas vezes egoísta e hedonista, buscando o prazer pelo prazer, onde a Igreja muitas vezes não se enquadra como resposta a essas aspirações, notadamente para uma boa parcela da juventude que sente o vazio material e existencial premente. São desafios que imperam e exigem de todos – aqui destacando os catequistas – uma renovada consciência, metodologias eficientes e preparação acerca dos temas e de como abordar aqueles que receberão a palavra.
Como destaca a encíclica Evangelii Gaudium (102) citada pelo Papa no documento,
“é tarefa dos Pastores sustentar este percurso e enriquecer a vida da comunidade cristã com o reconhecimento de ministérios laicais capazes de contribuir para a transformação da sociedade através da penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico.”
Para os leigos, portanto, é um percurso de formação e evangelização que demanda à Igreja uma sólida doutrina e exposição desta na prática da catequese. O leigo tem, aqui, dada a peculiaridade de sua atuação secularizada, a possibilidade de penetração e potencial influência nos meios nos quais convive, inserindo os valores cristãos no mundo social, econômico e político, como aduz a Evangelii Gaudium (102).
[Continua]
Sobre o autor (Adilson Souza, MSc):
Matemático, Mestre em Engenharia Metalúrgica e Especialista em Gestão Estratégica. Superintendente do Axis Instituto e Consultor Organizacional Sênior. Professor de Graduação e Especialização: UIT/Itaúna, Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) e Faculdade Vicentina de Curitiba (FAVI). Cursando Teologia e aluno da Escola Diaconal da Diocese de Divinópolis/MG.
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