(Por Renato M. Batitucci, Esp.)
A Gestão de riscos na gestão
As entidades eclesiásticas vivenciam, nos tempos atuais, situações específicas bastante desafiadoras, que têm exigido reflexões mais profundas e, muitas vezes, por consequência, adaptações e ajustes em sua própria estrutura, com impactos também na cultura organizacional e na forma de gerir e governar as suas diversas obras.
Dentre tais desafios, abordados ao longo deste artigo, podemos citar:
- O crescente rigor e novas exigências legais e técnicas;
- A diminuição das vocações religiosas;
- O acirramento da concorrência e o aumento de exigências mercadológicas;
- A necessidade de reduzir o tempo de reação no enfrentamento de dificuldades diversas.
Estes fatores, presentes em maior ou menor escala conforme perfil e porte da entidade, impulsionam as organizações a qualificarem os seus processos de controle e gerenciamento, visando melhor prevenção e minimização de incertezas e maior assertividade e confiabilidade do processo decisório.
A gestão de riscos e a auditagem de processos podem contribuir, sobremaneira, para a necessária e desejada qualificação do processo de gestão.
Fatores que impulsionam a necessidade de melhor gerenciamento de riscos e auditagem de processos
É fato que os órgãos reguladores têm exigido, cada vez mais, maior rigor e consistência nas prestações de contas, exigindo dados e informações mais consistentes e fidedignas, que demonstrem de forma cabal a congruência entre o discurso e a prática e a devida conformidade com os preceitos e normas legais aplicáveis, seja para comprovação e renovação de certificados de filantropia, para comprovação de recursos de convênios diversos, dentre outros.
Para tanto, os projetos, independente de seu perfil – social, saúde ou educacional, precisam demonstrar um grau mínimo de organização e sistematização e, ainda, pela própria necessidade de sobrevivência, obterem resultados satisfatórios. Soma-se a este crescente rigor, novas exigências legais e técnicas.
As atualizações e discussões em curso em torno das filantrópicas, da legislação contábil, reforma trabalhista, e-social, para citar algumas, são exemplos de mudanças que impactam as entidades eclesiásticas.
Este contexto tem levado uma série de instituições, inclusive, a reavaliarem o seu próprio modelo de organização interna, a partir de uma nova configuração que fortaleça a identidade e melhor proteja o patrimônio e a governança institucional.
Dados das vocações religiosas
Outro aspecto que tem merecido atenção especial das entidades diz respeito à diminuição das vocações religiosas. O Anuarium Statisticum Ecclesiae 2015 (L’Osservatore Romano – JE) aponta para uma queda das vocações. Em relação aos sacerdotes diocesanos e religiosos observam-se os seguintes dados:
- Entre os diocesanos, no total, registra-se um aumento de 1,6%, passando dos 277.009 em 2010 aos 281.514 em 2015.
- Já entre os religiosos constata-se uma constante diminuição (-0,8% no período), chegando-se aos 134 mil em 2015.
A mesma tendência é verificada em relação às religiosas professas:
- Em nível global, passaram de 721.935 em 2010 para 670.320 em 2015, representando uma queda de 7,1 pontos percentuais.
- A América do Sul e Central mostraram uma diminuição, passando de 122.213 religiosas em 2010 para 112.051 em 2015, com um decréscimo de 8,3% no período e 1,7% a cada ano.
Prossegue também a queda nas vocações sacerdotais:
- A taxa de vocações cai de 99,5 seminaristas por milhão de católicos em 2010, para 90,9 em 2015.
Este fator tem impacto direto na gestão das obras, na medida em que, cada vez mais, menos religiosos(as) estão à disposição para participarem de forma direta, intensa e ativa da administração das obras.
Uma das consequências desta redução das vocações é a necessidade, cada vez maior, de as entidades contarem com o trabalho e a parceria dos leigos, implicando em maior descentralização e delegação de tarefas e poderes, o que exige o aperfeiçoamento de processos de monitoramento, controle e gestão.
Somam-se às imposições técnicas-legais e ao desafio vocacional o acirramento da concorrência e o aumento de exigências mercadológicas. Na área educacional, como exemplo, é nítido o crescimento e fortalecimento de grandes grupos educacionais leigos, novas exigências relacionadas à base nacional comum curricular e ao ensino médio, a demanda por formação bilíngue e inovações tecnológicas e metodológicas.
Tais aspectos, dentre outros, impactam o modelo de gestão e impulsionam e direcionam para a necessidade de melhor estruturação dos processos de governança e gestão das entidades eclesiásticas, sob o risco de perda de competitividade.
No contexto atual, o tempo de resposta e reação às novas exigências, tendências, desafios e expectativas é, pois, outro fator determinante para a própria sobrevivência de diversas obras católicas. Não é mais possível reagir de forma lenta e extremamente cautelosa, ou mesmo adotar uma postura de passividade ou neutralidade frente a tantos desafios.
Em muitas das situações não é possível deixar como está para ver no que vai dar! Vemos, a todo o momento, diversas unidades escolares, hospitalares e outros projetos enfrentando sérias dificuldades para se manterem sustentáveis e fortalecidas, potencializadas muitas vezes pela demora em perceber ou aceitar indicadores desfavoráveis, pela ausência de um plano de ação de revitalização e fortalecimento, minimamente consistente e capaz de enfrentar tais desafios, ou mesmo pela incapacidade de reagir a sinais por novos anseios e mudanças.
“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.” Confúcio
(Continua)
Sobre o autor (Renato Batitucci):
Sócio Diretor do Axis Instituto, administrador, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios e em Engenharia da Qualidade, especialista em Gestão do Terceiro Setor. Atua, há mais de 15 anos, na coordenação e no gerenciamento de projetos de apoio e assessoria a Entidades Eclesiásticas.
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Fotos: Pixabay