(Por Ir. Terezinha Santana, Me, CJ)
Razões desta publicação
O ponto de partida: razões dessa publicação na revista Axis Vertentes.
Não há escolas sem professores.
Não há professores sem formação.
Não há formação que nos sirva para a vida inteira.
É preciso acompanhar o tempo.
É preciso perceber as necessidades e as mudanças.
Caso contrário, corremos o risco de chegar a determinadas condições didáticas e só descobrir que elas não são mais úteis. (ALMEIDA, 2007, p. 65)
Inspirada pelas palavras de Almeida (2007, p. 65), “não há escolas sem professores. Não há professores sem formação. Não há formação que nos sirva para a vida inteira […]”, apresento reflexões que motivam as pessoas que se dedicam à formação continuada de professores, de modo especial, aos educadores que acompanham as publicações do Axis Instituto que também acreditam que, em nosso país, a qualidade de Educação a qual se oferece pode melhorar.
Sendo assim, a presente publicação na revista Axis Vertentes tem como finalidade oferecer uma significativa contribuição aos profissionais que assumem a aprendizagem como o seu foco de trabalho e buscam, a partir dos estudos e problematizações realizados na formação continuada de professores, perspectivas pedagógicas e subsídios para o cotidiano escolar.
Para este artigo utilizo dados e resultados de uma pesquisa de mestrado realizada no programa de Pós-Graduação da PUC-SP, em Educação: Currículo, que discute como ocorreu o processo de aprendizagem da formação continuada de professores para o âmbito da sala de aula. Algumas referências bibliográficas utilizadas são oriundas da formação de professores do Instituto de Educação Beatíssima Virgem durante o período em que atuei como orientadora educacional e membro da equipe gestora, e que nos foram indicadas, pela consultoria do AXIS Instituto, aos educadores do Sistema de Ensino Mary Ward.
Ressalto que, nos ambientes educativos acima citados, os professores se viram contemplados com a almejada aprendizagem na formação continuada de professores prevista no currículo de cada unidade.
Formação continuada
A formação continuada é um espaço de discussão que ajuda o professor a contextualizar os conhecimentos acadêmicos, mediante as transposições feitas até chegar aos educandos, possibilitando a esses uma aprendizagem significativa. Consideramos a relevância do tema para o nosso sistema educacional contemporâneo e, desse modo, queremos compartilhar com os leitores as constatações dos nossos estudos durante o mestrado.
As leituras aqui introduzidas não são definitivas; portanto, outros estudiosos podem apresentar múltiplas interpretações dos teóricos citados nesta publicação. Priorizamos elementos específicos das principais contribuições de cada autor abordado, o que poderá ajudar nas reflexões acerca da formação continuada de professores, trajetória que ora compartilhamos.
Nessa trilha, o referencial teórico sobre a formação de professores fundamentou-se em diversos autores, que se reportam à formação continuada como uma atividade inovadora da instituição escolar e possibilita aos professores
“[…] preverem atividades e intervenções que favoreçam a presença na sala de aula do objeto de conhecimento tal como foi socialmente produzido, assim como refletir sobre a sua prática e efetuar as retificações que sejam necessárias e possíveis” (LERNER, 2002, p. 35).
Vale ressaltar que, nas atividades pedagógicas de transpor os saberes científicos para o ambiente escolar, o principal meio que contribuiu foi a formação continuada, por intermédio das Horas de Trabalho Pedagógico (HTPs), que aconteceram na escola, com a seguinte distribuição: três horas de trabalho pedagógico coletivo cumpridas na unidade escolar, para que os educadores tivessem a oportunidade de tratarem dos assuntos pedagógicos e quatro horas de trabalho pedagógico em local de livre escolha. Assim, entendemos o significado dos encontros de formação para o Professor (P) participante da pesquisa, a partir da transcrição da entrevista.
Nas HTPCs são discutidos assuntos pontuais da escola e também direcionamentos voltados à prática em sala de aula; esses direcionamentos e discussões foram muito valiosos e pontualmente utilizados em minha prática cotidiana.
Vale informar que, nos encontros de HTPCs, o professor de Ciências recebeu subsídios dos conteúdos específicos dos formadores, teve possibilidade de trocar informações com seus pares e, assim, foi possível elaborar um planejamento com os conhecimentos e saberes a serem ensinados e os alunos tiveram acesso aos conteúdos previstos de um modo contextualizado. Apesar desse fato, constatamos simultaneamente alguns impasses, como dificuldades na compreensão de conceitos e necessidade de aprofundamento.
Segundo o Professor (P),
“[…] os alunos sabem que desmatamento e queimadas agridem o ambiente, mas não atribuem as razões dessas agressões ao modelo de desenvolvimento adotado pelas sociedades humanas”; ou então: “[…] tentamos implantar a coleta seletiva de lixo, mas sem sucesso”.
As reflexões do professor sobre a questão ambiental são pertinentes, pois sabemos que a falta de cuidado com o meio ambiente afeta todos os setores da sociedade, inclusive a Educação. Acompanhamos, em Cajamar, na Secretaria de Educação, propostas que estimularam os professores a repensarem continuamente as suas práticas pedagógicas e buscarem, na formação continuada, novos conhecimentos por meio de contínuas capacitações, a fim de estarem sintonizados com os fatos que ocorrem no mundo.
Os professores são profissionais responsáveis pela mediação dos saberes e desempenham papeis importantes na Educação dos alunos. Por isso, precisam estar atualizados e aptos a enfrentarem as mudanças socioculturais e tecnológicas que aparecem no cotidiano escolar. Essas mudanças afetam diretamente a escola e precisamos ter um compromisso bem maior com a Educação, pois os alunos têm informações atualizadas no mesmo instante em que são produzidas e proporcionadas pelas mídias interativas. E é para esse perfil de alunos que temos que olhar, modificando nossas práticas, nossas escolas e a formação de novos educadores.
Perante essas questões, propomos considerar o seguinte problema neste artigo: há transposição didática dos conhecimentos científicos estudados pelo professor, na formação continuada, para a sua prática cotidiana de trabalho? Talvez nos pareça tão óbvio que o papel da formação continuada seja proporcionar ao professor um espaço de formação para que ele, de posse de um determinado saber, consiga repensar-se permanentemente.
A preocupação primeira é o professor e a sua cultura profissional. Se há espaço: o que significa esse espaço ao professor que dele participa? Portanto, essa questão foi pesquisada para se ter uma compreensão de como os professores aprendem conceitos científicos e como os movimentam na sua prática profissional com os alunos, em sala de aula.
Partimos da hipótese de que a formação continuada é um espaço de reflexão e discussão, que contribui na busca do conhecimento e ajuda o professor a fazer a passagem do saber científico, para saber a ensinar e, sucessivamente, para o saber ensinado e saber aprendido. Transformações essas, que sugerem modificações, até chegarem à sala de aula (CHEVALLARD, 2009). Contudo, ressaltam (GATTI e BARRETTO, 2009) que há um impasse que atinge alguns educadores de nosso país: embora com conhecimentos específicos advindos de sua formação inicial, há falta de aprimoramento pedagógico dos professores.
Portanto, a formação continuada apresenta-se como um espaço qualificado de aperfeiçoamento aos professores, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. A formação continuada de professores é de fundamental importância, pois contribui para a atualização dos conhecimentos, para repensar as estratégias de ensino, para a troca de experiências, para a valorização profissional, e para o exercício e construção da cidadania.
Não se pode contar com a possibilidade de que a transposição didática ocorra espontaneamente. Para que haja transposição didática, pressupomos que os educadores precisem ter vivenciado a trajetória do conhecimento científico e o transposto para o conhecimento pedagógico a ser ensinado, a partir da seleção de ações educacionais que subsidiarão o aprendizado dos alunos. Almeida (2007) afirma que:
Se, no passado, era imprescindível que o professor soubesse datilografia, isso mudou um dia. Passou-se a cobrar dos professores um bom domínio da informática. Hoje já é sabido e esperado que o professor tenha esse domínio, porém, só ele não basta, é preciso que, aliados a ele, o professor tenha o domínio de uma língua estrangeira, para aprofundar-se nas leituras e nas pesquisas, e é preciso que ele desenvolva uma competência pedagógica para ser capaz de saber a diferença entre navegar na internet e naufragar na internet. (ALMEIDA, 2007, p. 66)
Os estudos de Almeida (2007) mostram que a formação continuada necessita, portanto, ser pensada em termos de sua eficácia na aplicação, pois deve representar um momento valioso de oportunidade de troca de saberes e aquisição de novos conhecimentos. A formação continuada interessa, acima de tudo, aos professores, enquanto profissionais da Educação. É essencial, também, aos profissionais que assumem, em determinado momento de sua trajetória profissional, a função de docência e contribuem na formação de pessoas em todas as instâncias da vida social contemporânea. É um tema que está em evidência nos meios acadêmicos.
Sobre a formação continuada, os aspectos focalizados são bastante variados, incluindo diferentes segmentos educacionais: Infantil, Fundamental, Adulto; e outros contextos diversos: rural, noturno, a distância; e nos meios de comunicação e materiais diversificados, tais como: rádio, televisão, textos pedagógicos, módulos, informática, revelando dimensões muito ricas e significativas da formação.
Na dissertação tratei, na primeira parte, da Formação continuada como espaço de aprimoramento pedagógico; na segunda parte abordei o conceito de Transposição Didática; na terceira parte, fiz considerações sobre a organização metodológica da investigação; na quarta parte abordei, sob o prisma da Transposição didática, como ocorreu, no estudo de campo, a passagem dos estudos e problematizações desenvolvidas na formação continuada para o âmbito da sala de aula; o último capítulo trata, nas considerações, dos caminhos possíveis para se compreender o papel da transposição didática para a aprendizagem dos alunos.
[Continua]
Sobre a autora (Terezinha Santana, Me, CJ):
É Irmã da Congregação de Jesus (CJ); cursou o mestrado em Educação: Currículo e Pedagogia na PUC-SP; graduada em Letras pela Faculdade Pública de São José do Rio Pardo, SP; estudou o Magistério no Colégio de Educação Familiar do Paraná, em Curitiba. Atuou como orientadora educacional do Instituto de Educação Beatíssima Virgem Maria de 2003 a 2021 e na formação de professores. É membro da Equipe de Liderança da província Amerindia da CJ na Argentina, Chile e Brasil; atua na área de Educação e é representante legal da CJ no Brasil.
Leia o artigo na íntegra!
CLIQUE AQUI
Fotos: Pixabay e Unsplash