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Importância do diálogo inter-religioso para a paz no mundo

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(Por Claudia Giampietro, Me)

Diálogo Inter-religioso 

Na Evangelii Gaudium, Papa Francisco afirma que “o diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo, e, portanto, é um dever para os cristãos, como para outras comunidades religiosas” (EG 250).  

O meu percurso de formação pessoal e profissional de leiga comprometida com a mediação intercultural e linguística é constituído por etapas de aprendizagem e pesquisa, marcadas pelo diálogo experiencial na coexistência diária com representantes de outras culturas e diversas tradições religiosas.  

Nos últimos anos, o compromisso a favor da cooperação entre as culturas e as religiões, tem me incentivado muito a procurar estabelecer extensas redes de contato que ultrapassem as fronteiras geográficas, e que incluam as religiosas que pertencem à União Internacional das Superioras Gerais (UISG) – uma organização “guarda-chuva” de quase duas mil superioras gerais de Congregações do mundo inteiro, com sede em Roma.  

Em 2018 fui selecionada para participar de um programa anual organizado por um Centro Internacional de Diálogo, The King Abdullah Bin Abdulaziz International Centre for Interreligious and Intercultural Dialogue (KAICIID). Através deste programa, foi possível desenvolver um projeto de formação ao diálogo, realizado pela primeira vez em 2019, com um grupo de trinta e três atuais e futuras formadoras de Institutos religiosos provenientes da Ásia, África e Leste Europeu.  

No presente artigo – depois de uma breve introdução à realidade do Centro KAICIID – apresento o conteúdo do seminário criado e implementado com o grupo de formadoras, novamente proposto este ano para as participantes na segunda edição do programa no mês de março, através da plataforma online Zoom (devido às atuais condições de emergências da pandemia global que impedem a realização do curso nos locais da UISG em Roma).  

Centro KAICIID 

O International Dialogue Centre (KAICIID), com sede em Viena, visa reunir os líderes religiosos e os políticos responsáveis pela tomada de decisões para desenvolver e realizar iniciativas multilaterais com objetivos de construir coesão social e coexistência. O KAICIID suporta especialistas, aprendizes e organizações que trabalham neste campo através de programas de desenvolvimento de capacidades, seminários, formação e parcerias (KAICIID Fellows Programme. Interreligious Dialogue Resource Guide. First Edition, December 2017, p. 1).  

O esforço do KAICIID em contrariar os estereótipos e prejuízos e promover a paz e reconciliação se traduz em programas regionais (na Europa, no Sudeste Asiático, na Arábia Saudita, na África e na América Latina) e internacionais, que foram iniciados em 2015.  

Os encontros entre o Papa Emérito Bento XVI e o então Rei Abdullah Bin Abdulaziz, guardião das Duas Mesquitas Sagradas (falecido no ano em que começaram os programas) levaram a entender a imensa importância da formação de indivíduos comprometidos na difusão dos princípios do diálogo, quais sejam, o respeito pela diversidade, a transparência, integridade e dignidade, a inclusão de diferentes perspectivas, a empatia e compaixão, e a ação para implementar as capacidades adquiridas.  

O ano de treinamento no programa, que é o mesmo nos diferentes idiomas, estrutura-se em três encontros de uma semana cada um, dois dos quais acontecem em Viena e o terceiro em outro lugar do mundo – onde os participantes podem visitar os lugares sagrados de diferentes tradições religiosas.

Ao longo do ano, se requer a participação num curso online, a partilha virtual com os outros participantes e o desenvolvimento de um projeto. Este último é monitorado e avaliado, também a respeito da sua reprodutibilidade, que pode melhorar os processos dialógicos das instituições às quais os líderes religiosos e os educadores pertencem.  

O modelo de aprendizagem seguido pelo KAICIID passa pelo conhecimento das relações entre as religiões, a aquisição de habilidades de facilitação e liderança e a implementação de iniciativas por parte dos alunos. Depois de terminar a formação, o aluno é incluído numa rede à qual pertencem todos os indivíduos que se formaram no mesmo programa e que são convidados a colaborar entre si para dar vida a novas iniciativas relativas ao diálogo.   

O primeiro seminário “Formação ao diálogo para as formadoras” foi realizado, com o apoio do KAICIID, no dia 3 de abril de 2019. Conduzi a aplicação de uma sondagem, analisei o resultado e o apresentei para as participantes do programa de Formação da UISG. O idioma de implementação deste seminário foi o inglês, devido à escolha de uma língua comum a todas as participantes. Dividido em abordagem teórica e exercícios práticos, aprendidos durante os estudos presenciais e o trabalho à distância, foi estruturado segundo as exigências das participantes e de suas Congregações.  

O papel atual ou futuro de responsáveis pela formação das novas gerações nos Institutos religiosos determinou a escolha de técnicas específicas para ajudar as religiosas na construção de um clima comunitário saudável, onde se respeite a história de cada uma, e seja valorizada a imensa riqueza cultural e espiritual que pode emergir através de um diálogo honesto.

Desta forma, se podem beneficiar do percurso ao mesmo tempo o diálogo ad intra e ad extra, cujas boas práticas se difundem além dos membros diretamente envolvidos na formação e podem promover a ação transformadora necessária à abertura ao mundo e a desempenhar o papel de embaixadores de paz e convivência comum. 

Como antecipado na introdução, o grupo de participantes – identificadas segundo a seguinte porcentagem de representação: 57% Ásia, 30% África e 13% Leste Europeu – respondeu a uma sondagem elaborada com o auxílio de peritos na área do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.  

Os resultados mostraram que muitas tiveram a oportunidade de participar numa experiência inter-religiosa no âmbito acadêmico, extracurricular, ou na observação/participação numa oração ou num evento de culto de uma outra tradição religiosa diferente daquela Cristã.  


Foto: Mãos unidas.

Na tentativa de definir o diálogo, uma das religiosas afirmou que “se trata de uma forma de compreender as diferentes perspectivas numa situação particular, ou de um meio para alcançar uma compreensão comum”; outra chegou a dizer que “significa escutar atentamente e respeitar”, antecipando o nosso exercício de profunda escuta e escuta seletiva.

À pergunta sobre qual seria o método melhor para preparar os futuros consagrados ou ministros pastorais para o diálogo com pessoas com identidades diferentes, alguém sugeriu “programas de conscientização, seminários/laboratórios com outros religiosos”, ou “um estudo sobre as religiões no programa formativo” e uma das irmãs, com muita sabedoria, acrescentou que “se a noção de diálogo inter-religioso fosse introduzida nas casas de formação logo no começo do percurso, isso ajudaria muito as futuras religiosas.”  

Entre as reações mais interessantes que recebi das participantes, elas afirmaram que chegaram a entender melhor a complexidade das identidades e ficaram surpreendidas pela ordem de identificação dos elementos que compõem a própria identidade. Por exemplo, sem perceber, na análise da identidade algumas deram a precedência a elementos como a nacionalidade e somente depois incluíram outros como o ser consagradas ou pertencer a uma determinada Congregação religiosa.  

A parte final do nosso encontro foi dedicada à leitura do Documento sobre a fraternidade humana, assinado conjuntamente pelo Santo Padre Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb em ocasião da viagem Apostólica do Papa Francisco aos Emirados Árabes Unidos, de 3 a 5 de fevereiro de 2019. Como afirmado no prefácio, “O diálogo entre crentes significa encontrar-se no espaço enorme dos valores espirituais, humanos e sociais comuns, e investir isto na propagação das mais altas virtudes morais que as religiões solicitam.”  

Estas virtudes nos chamam a trabalhar sobre nós para que sejamos uma comunidade educativa. Através do trabalho sobre o texto, descobrimos que nenhuma das participantes tinha lido o documento antes do nosso encontro e a importância e originalidade deste documento foram entre os aspectos que tivemos a oportunidade de aprofundar durante o seminário.  

[Continua] 


Sobre a autora (Claudia Giampietro, Me):

Especialista em Mediação Intercultural e Inter-religiosa e Mestre em Direito Canônico; possui um Bacharelado em Mediação Linguística e Intercultural. Atua como Oficial de Projetos no Escritório para a Proteção e a Salvaguarda, da União Internacional das Superioras Gerais em Roma. 


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Fotos: Pixabay

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