Competências Socioemocionais e Neurociências

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(Por Marília Oliveira Silva)

As competências socioemocionais

Muitos autores, vêm enfatizando nos últimos anos a importância das emoções ou das chamadas, atualmente, competências socioemocionais, na construção das aprendizagens. Sabemos que toda aprendizagem se dá por meio de experiências e das relações com o mundo.

Do ponto de vista das neurociências, aprender é criar novas conexões no cérebro; os processos de ensino e aprendizagem resultam numa reorganização cerebral que gera mudanças de comportamento. A aprendizagem, por sua vez, depende da memória e, principalmente, de sua consolidação; quanto mais significativas forem as memórias, mais chances de se consolidarem e gerarem mudanças de comportamento.

Assim sendo, quanto mais relevante for uma memória, mais significativa poderá ser a aprendizagem desencadeada através de sua evocação. Toda memória significativa tem como pano de fundo ou de “frente” mesmo, as emoções, sejam elas quais forem.

Emoções e razão

Antônio Damásio, importante neurocientista português é, na atualidade, um dos estudiosos que muito tem pesquisado a relevância das emoções na constituição da racionalidade. Segundo ele, a forma através da qual nos relacionamos com o mundo não depende apenas do nosso cérebro, mas de sua interação com o corpo.

Não há uma separação entre razão e emoção. O que ocorre no corpo depende do cérebro e vice-versa. No livro, O Erro de Descartes, (1996) Damásio contesta o dualismo cartesiano ou a separação entre Razão e Emoção.

Sua pesquisa inicialmente foi movida pelo interesse em desvendar o que ele mesmo chama de fundamentos neurais da razão. As respostas já alcançadas até então eram insuficientes: a afirmação de que havia sistemas neurológicos diferenciados para a razão e para a emoção, trazia em si contradições, frente a alguns aspectos observados por ele, em casos clínicos de pacientes com lesão cerebral específica.

Suas observações apontavam para a hipótese de que, em alguns casos, havia áreas cerebrais lesionadas que comprometiam a capacidade de tomar decisões acertadamente, com base no bom senso ou na razão. A partir desses estudos, Antônio Damásio defende a ideia de que a razão humana depende do funcionamento e integração de um conjunto de sistemas cerebrais e de diferentes níveis de organização neural.

Toda e qualquer atividade mental está vinculada às interações de um cérebro e um corpo. Não há uma cisão entre corpo e cérebro, emoção e razão. Pelo contrário, a emoção em geral sinaliza aquilo que é importante para nosso organismo, para a nossa fisiologia. Cérebro humano e corpo são indissociáveis. Portanto, emoção, sentimento e os aspectos neurobiológicos do funcionamento cerebral têm influência direta na razão humana.

Damásio problematiza as afirmações de Kant e Descartes, de que o raciocínio deve ser feito de forma pura, separado das emoções. Para ele, isso é impossível, pois são as emoções que permitem o equilíbrio das nossas decisões. O cérebro humano é bastante complexo e as tomadas de decisões e escolhas são ações que envolvem não só a razão, mas  também a emoção. Portanto, aprendizagem, emoção e desenvolvimento cerebral são processos intrinsecamente ligados.


Foto: Ideias e competências.

Embora o filósofo René Descartes não tenha propriamente desconsiderado as “emoções”, sua pesquisa apontava que a existência humana estaria condicionada ao ato de pensar e, esse pensar se relacionava a uma “atividade separada do corpo”. (Damásio, 2010, pg. 279)

“Nem tudo é razão”

Pode-se dizer também que a descoberta do inconsciente, por Sigmund Freud, no final do século XIX, contribuiu, de maneira significativa, para a compreensão de que a mente humana é bastante complexa; nem tudo é razão.

Nas três últimas décadas, especialmente, houve um “boom” nas pesquisas sobre o sistema nervoso, graças aos avanços tecnológicos que possibilitaram a observação do cérebro em funcionamento; houve o surgimento de técnicas sofisticadas  de diagnóstico por imagens.

O sistema nervoso é que permite a interação do homem com o meio e responde por todos os nossos comportamentos; a investigação acerca do seu funcionamento é, sem dúvida, fundamental para  a compreensão da mente humana.

Ivan Izquierdo, neurocientista argentino, naturalizado brasileiro, é outro importante pesquisador que tem se dedicado a investigar as relações entre as emoções e a mente humana. Suas pesquisas estão direcionadas à compreensão  do papel das emoções na constituição das memórias. 

Segundo Izquierdo, não é possível formar ou evocar memórias sem emoções. Em todo o processo de aquisição, conservação ou evocação da memória, as emoções estão presentes.  Para ele, o tipo de memória que mais conservamos é aquela que contem um conteúdo emocional significativo. Em geral, o nosso cérebro lembra aquilo que lhe convém. Ele memoriza as informações de acordo com sua relevância para a nossa sobrevivência.

Não há dúvidas, hoje, de que as emoções são constitutivas da condição humana.

[Continua]


Sobre a autora (Marília Oliveira Silva):

Psicóloga, pós-graduada em Neurociências e Psicanálise Aplicadas à Educação, Educadora e Consultora Pedagógica.


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Fotos: Pixabay

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