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Plasticidade Neuronal e o Bilinguismo

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(Por Dra. Svetlana de Souza Hopf)

Os efeitos do Bilinguismo

Os efeitos benéficos do bilinguismo nas funções executivas gerais foram evidenciados através de estudos que demonstraram o desempenho superior dos indivíduos bilíngues em relação aos indivíduos monolíngues em tarefas cognitivas envolvendo atenção, memória ativa e resolução de conflitos. Em geral, acredita-se que mais da metade da população mundial seja bilíngue.

Nos EUA e no Canadá, aproximadamente 20% da população fala, em sua residência, um segundo idioma além do inglês. Estes números são mais elevados nas áreas urbanas, atingindo cerca de 60% em Los Angeles e 50% em Toronto. Na Europa, o bilinguismo é ainda mais prevalente: em uma pesquisa recente, 56% da população em todos os países da União Européia relataram ser funcionalmente bilíngues, com alguns registrando taxas particularmente elevadas, como o Luxemburgo, em 99%. Os bilíngues, portanto, constituem uma parcela significativa da população mundial. A acumulação de pesquisas mostra que o desenvolvimento, a eficiência e o declínio das habilidades cognitivas cruciais são diferentes entre os bilíngues e os monolíngues.

Quais são essas diferenças cognitivas e como o bilinguismo leva a essas mudanças?

O contexto para examinar como o bilinguismo afeta a capacidade cognitiva é a neuroplasticidade funcional, o estudo de como a experiência modifica a estrutura cerebral e a função cerebral. Os bilíngues, de todas as idades, demonstram um melhor controle executivo do que os monolíngues em idade e outros fatores de fundo. O controle executivo geral é o conjunto de habilidades cognitivas baseadas em recursos cognitivos limitados à funções como sinalização inibitória, attention switching (or set-shifting) e memória ativa.

O controle executivo geral surge já no início do desenvolvimento e declina progressivamente no envelhecimento. É responsável por prestar suporte a atividades como higher-order thinking (or higher order thinking skills (HOTS), multi-tasking e sustained attention. As redes neuronais responsáveis ​​pelo controle executivo estão centradas nos lobos frontais, com conexões para outras regiões do cérebro, conforme a necessidade de execução de tarefas específicas.

Nas crianças e adolescentes, o bom desenvolvimento do controle executivo geral é fundamental para o desempenho acadêmico. Em uma meta-análise recente, Adesope et al  calcularam efeitos das vantagens do controle executivo em crianças bilíngues. Hilchey e Klein resumiram a vantagem bilíngue em uma grande quantidade de estudos com adultos. Esta vantagem demonstrou expandir-se para a idade mais avançada e proteger contra o declínio cognitivo.

Quais são essas diferenças cognitivas e como o bilinguismo leva a essas mudanças?

Uma pressuposição lógica para a organização de uma mente bilíngue é que ela consiste em dois sistemas de linguagem, representados de forma independente, que são acessados ​​de maneira exclusiva em resposta ao contexto: um francês-inglês fluente em um café parisiense não tem motivos para considerar como formam o pedido em inglês, e uma bilíngue cantonense-inglesa em Boston não precisa reformular o material através do chinês. No entanto, evidências substanciais indicam que não é assim que a mente bilíngue é organizada. Ao contrário disso, os bilíngues fluentes mostram alguma medida de ativação de ambos os idiomas e alguma interação entre eles em todos os momentos, mesmo em contextos inteiramente conduzidos por apenas uma das línguas.

Estes fatos nos levam a concluir que o bilinguismo é associado a uma vantagem no attentional control. A necessidade de gerenciar dois idiomas ativados conjuntamente conduz a um aprimoramento dos mecanismos de controle de atenção frontal-posterior, com a consequência de que outros tipos de controle cognitivo também são aprimorados. A sinalização inibitória foi sugerida como o mecanismo relevante em estudos iniciais e continua sendo aprovado por pesquisadores.

Foto: Mulher com destaque para a mente.

Correlações Neurais de Reorganização Cognitiva

Recentes estudos começaram a investigar os correlatos neurais dos processamentos bilíngues examinados na pesquisa comportamental. A maioria dessas pesquisas usou fMRI[2] para estudar bilíngues executando uma tarefa linguística em suas duas línguas. Normalmente, os participantes nomeiam ou geram palavras em resposta a uma sinalização indicando que o idioma e desempenho requeridos são comparados para condições de idioma único e linguagem mista. Dois primeiros estudos revelaram resultados promissores.

O primeiro levou à descoberta surpreendente de que a troca de linguagem foi acompanhada por ativação no córtex dorsolateral pré-frontal (DLPFC), uma área que faz parte do Executive Control (ou Controle Executivo Geral). Pesquisas subsequentes comprovaram o envolvimento desses sistemas e mostraram que a troca de linguagem provoca um padrão de ativação espacialmente distribuído envolvendo regiões frontais bilaterais, áreas pré-centrais bilaterais, áreas caudadas bilaterais, pré-suplementares (pré-SMA) e regiões bilaterais temporais.

Este padrão foi encontrado para bilíngues alemão-francês, espanhol-catalãs, chinês-inglês, e espanhol-inglês. Alguns estudos também relataram ativação no córtex cingulado anterior (ACC). Abutalebi e colegas estenderam esta descoberta para mostrar a ativação do ACC para troca de idioma e comutação não-verbal. Estes estudos confirmam que os sistemas frontais envolvidos no controle executivo geral são recrutados por bilíngues para gerenciar a atenção à linguagem.

[2] Ressonância magnética funcional

[Continua]

Sobre a autora (Dra. Svetlana de Souza Hopf):

Svetlana de Souza Hopf é brasileira, doutora em neurociência pela Boston University, Boston, EUA. É especializada em psicologia cognitiva e processamento cognitivo de informações. CEO e fundadora da empresa C.E.L.L.S. – Cognitive English Language Learning Solutions – que oferece um programa holístico baseado em inteligência artificial para o aprendizado de inglês.

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Fotos: Pixabay

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