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Perda de alunos nas escolas católicas: algumas variáveis explicativas

5 minutos para ler

(Por Dr. Sebastião Castro)

Introdução

Grande parcela dos colégios católicos do Brasil tem enfrentado, com certa perplexidade, o fenômeno de queda do número de alunos matriculados, ano após ano. Em nosso processo de consultoria, ao desenharmos os gráficos do número de alunos matriculados nos últimos 10 ou 5 anos, quase sempre nos deparamos com tais perdas, mostrando uma tendência.

Ao refletirmos sobre a questão, com os colégios clientes, ouvimos razões, apontadas para as perdas de alunos, bastante discrepantes entre si: crise econômica do país, aumento da concorrência, empobrecimento das famílias, marketing “agressivo” e nada ético de concorrentes, etc.

Todos esses fatores certamente desempenham importante papel na queda do número de alunos matriculados. No entanto – observem! –  todos esses aspectos são externos aos colégios e, portanto, de difícil controle, por cada escola. As diversas variáveis internas envolvidas com essa questão, entretanto, nem sempre são reconhecidas ou mencionadas.

O objetivo deste artigo é, pois, abordar e discutir pelo menos algumas dessas variáveis, essas, sim, passíveis de controle por cada colégio, já que estão dentro do seu âmbito gerencial.

Variáveis externas e sua relação com os colégios

O perfil do concorrente

A emergência do concorrente laico, especialmente a partir da década de 60 do século passado, passou a representar ameaça e, concretamente, subtraiu alunos da escola católica.

No panorama político e econômico liberal o ensino é visto como mercadoria. Como tal, está sujeito a transações econômicas diversas. As questões essenciais da educação formal – valores, princípios, relações humanas, calor humano – são desidratadas, tornando-se espectrais apenas, e instrumentalizadas pelo marketing, num grande “faz de conta”.

A educação deixa de ser um campo de construção da pessoa, de formação plena e integral, como defendido pelas escolas católicas, e se reduz a “ensino”, capturado pela visão econômica prevalente, e reduzido à transmissão de conteúdos, notadamente os que orbitam o pensamento econômico. Esse “esvaziamento da essência” reduz custos, simplifica e otimiza processos e operações, instrumentaliza educadores e é “embalado” como produto “clean” e “fit”, a ser consumido de modo asséptico e acrítico.

Esse “produto higienizado” é que é “vendido”, hoje, por boa parcela dos grandes grupos educacionais. Seu poder de fogo, no entanto, é muito forte e preciso. Em outras palavras, é um “sucesso de vendas”. Esses são os maiores concorrentes da escola católica e tendem a se tornar desafios cada vez mais relevantes para ela.

O concorrente investe fortemente na sua imagem, uma vez que vivemos uma cultura cada vez mais imagética. Os prédios escolares são novos ou bem restaurados; a iluminação é farta e bem pensada; os banheiros são claros e modernos; a recepção é bem iluminada, com design bonito e até arrojado; as salas de aula são climatizadas, claras, com muita tecnologia, móveis e professores “descolados”; a cantina é trabalhada como praça de alimentação; a biblioteca é cada vez mais digital, com boas mesas de estudo e bibliotecária sorridente. Há tablets, wifi para alunos, parceiros educacionais “modernos”. Os pátios, quando os há, são limpos, com artefatos coloridos, jardins desenhados, bastante cimento nos pisos, áreas de “convivência”.

Mas o concorrente também investe muito no ensino! Contrata jovens e bons professores, e técnicos educacionais, eficientes e simpáticos; as aulas são muito bem dadas, com tecnologia de ponta como apoio ao professor, sempre que possível, horista; o concorrente produz seu próprio material didático, quase sempre muito bem editorado e escrito; “otimizando”, usa seu próprio material e o vende, muito bem, a muitas outras redes, inclusive, católicas; investe pesado em formação dos educadores, do pessoal administrativo, da recepção, etc.

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E, ao contrário de muitos colégios católicos, o concorrente dá grande importância à Comunicação e ao Marketing! Conta com profissionais de alto quilate, agências muito competentes, criação e produção esmeradas! Também possui equipes de vendas profissionais! Preços (nem sempre baixos!) mas estratégias muito convidativas. Esforços de venda concentrados, massivos, em perfeita sintonia com as áreas de Comunicação e Marketing.

O concorrente também se une a outros interessados, e constroem, juntos, estratégias eficientes de lobby, tanto junto ao governo quanto junto a outros players[1] do mercado. Os lobbies buscam, evidentemente, “adequar” a legislação e as políticas públicas às necessidades e vontades desses grupos educacionais.

Isso é feito via investimentos em “fazer” deputados e senadores, indicar ou determinar ocupantes de altos cargos nos ministérios afetos ao setor educacional, criar e manter “boas relações” com a imprensa e com outros formadores de opinião.

O concorrente estabelece, assim, em todas as frentes, campos de atuação harmonizados e concertados entre si, tornando-se “falanges” quase invencíveis. Claro está, o interesse primordial é o lucro dos acionistas. O ensino é um produto, como a cerveja, como o ketchup ou outro item qualquer. E, como já ressaltado, muito bem embalado e vendido. 

[Continua]


[1] Grupos que atuam, de forma competente, em segmentos específicos e crescentes do mercado.


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Revista VERTENTES!


Foto: Pixabay


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