Por: Edgard Alves Rodrigues Junior*

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Na antiguidade, a ideia de que a hospitalidade seria uma obrigação religiosa e que sua prática permitiria o acesso à divindade era difundida nas sociedades. Assim, com o intuito de ganhar as boas graças com a divindade a humanidade prosseguia promovendo a interação social e construindo parte essencial do tecido cultural. Da mitologia greco-romana as religiões atuais a divulgação da teoxenia[1] se faz presente como forma de reforçar a estabilidade social e a segurança. A hospitalidade encontra na religiosidade uma de suas dimensões já que praticá-la é abandonar o campo dos mortais e ter acesso ao divino.

Atualmente, de maneira simplista, entende-se hospitalidade como a oferta de alimentos e bebidas e, ocasionalmente, acomodação para pessoas que não são membros regulares da casa, ou seja, o simples acolhimento que dispensamos à outra pessoa em nossa casa.

Quando uma casa religiosa passa a satisfazer a necessidade de abrigo, acomodação, fornecer alimentos e bebidas e uma série de programações religiosas aos acolhidos em troca de pagamento, conclui-se que esta casa, também denominada meio de hospedagem confessional, pertence a um conglomerado de organizações que constituem o mercado da hospitalidade comercial. Desta forma, além de proporcionar alimento e abrigo, o mercado da hospitalidade, através da hospitalidade comercial, dentro de um universo muito mais abrangente, envolve um amplo conjunto de estruturas, serviços e atitudes que, intrinsicamente relacionados, procuram proporcionar o bem estar aos seus clientes. Na maioria dos casos, o bem estar dos clientes está relacionado à provisão de conforto psicológico e fisiológico esperado dentro dos níveis definidos de serviços. A demanda do mercado da hospitalidade espera que ao pagar pelos serviços oferecidos ela esteja segura e física e psicologicamente confortável.

Como as organizações que fazem parte do mercado da hospitalidade têm finalidades de aferir resultados positivos e suas existências estão diretamente relacionadas aos consumidores, cabe ressaltar que este mercado é movido pela demanda e, para seu perfeito funcionamento, é necessário que seu provedor – o anfitrião – esteja apto a responder as necessidades e desejos dos clientes. Sendo assim, o mercado da hospitalidade deve ser orientado de fora para dentro, direcionando todos os esforços para satisfazer as necessidades e desejos de seus clientes.

Percebe-se então que a hospitalidade comercial presente neste mercado é parte de um serviço que vai além do simples ato de fornecer abrigo e alimento e, sendo remunerado, é importante que tenha caráter profissional. Em se tratando de um mercado que inclui em seus objetivos captar recursos financeiros para financiar uma série de obras e atividades sociais e disposto a ‘vender’ hospitalidade dentro de um padrão de qualidade e competência, este é um aspecto que não pode ser negligenciado pelos meios de hospedagem confessionais, pois é o consumidor deste tipo de hospitalidade que toma as próprias decisões sobre onde ficar, por quanto tempo e qual alimento vai comer, qual bebida gostaria de apreciar ou qual programação religiosa é mais adequada ao seu momento.

Desta forma, o anfitrião se encontra refém do desejo de suprir, com exatidão, a quantidade de hospitalidade que assegurará a satisfação do cliente, bem como, o desejo de limitar o número de reclamações e ter este cliente acolhido em outras oportunidades, tornando-o fiel, bem como, tê-lo como um divulgador gratuito do empreendimento utilizado.

Como fenômeno profissional, pode-se afirmar que há uma hospitalidade concebida, organizada, capacitada, planejada, à qual teoricamente se contrapõe a uma hospitalidade ‘largada’, com atendimento amador e serviços de baixa qualidade, conforme se presencia em determinadas casas de encontros religiosos que não compreendem os benefícios e a importância deste mercado e da profissionalização de seus colaboradores. As inúmeras combinações que podem ser realizadas quando se agrega a esses compostos outros valores, capazes de satisfazer a demanda, leva a acreditar que existam variáveis ainda a serem consideradas no entendimento do conceito da hospitalidade neste mercado, como por exemplo, o ambiente onde se desenvolvem as suas relações. 

Destaca-se que associar sucesso ao empreendedorismo comercial fez com que os religiosos se mantivessem distantes dos negócios por entender que o lucro atentava contra a vida espiritual. Assim, durante algum tempo, suas ações eram centradas no meio educacional, catequético, social e nos cuidados com a saúde dos enfermos. Hoje, alguns meios de hospedagem confessionais idealizados ou conduzidos com criatividade, determinação, organização, capacidade de correr riscos têm se destacado no mercado e com resultados satisfatórios.

Desta forma, para seguir a prerrogativa de que servir o próximo também é servir a Deus na sua forma mais simples, convido os gestores dos meios de hospedagem confessionais as seguintes reflexões: gerimos corretamente os nossos custos e chegamos a oferecer preços justos e competitivos? Comunicamo-nos de maneira variada e permanente com o mercado consumidor? Compreendemos verdadeiramente as necessidades e desejos dos nossos clientes? Oferecemos ambientes limpos e confortáveis? Nossa alimentação é saborosa, farta e variada? Somos facilmente localizados por aqueles que nos procuram? Nossa equipe de trabalho é capacitada continuamente? Enquanto um meio de hospedagem confessional, estamos certos de que nossos clientes e hóspedes são a razão da nossa existência? Se não respondemos positivamente a todas estas questões e se desejamos continuar recebendo nossos hóspedes como o Cristo, precisamos de ajuda, seja através de uma formação profissional, seja através de uma consultoria especializada em gestão de meios de hospedagem confessionais.

*Edgard Alves Rodrigues Junior é consultor em Hospitalidade Religiosa do Axis Instituto; Administrador de Empresas e Gestor de Meios de Hospedagem Confessionais desde 2001; Mestre em Gestão de Meios de Hospedagem Confessionais pela Universidade Anhembi Morumbi; Pós-Graduado em Administração Hoteleira pela FGV (RJ) e SENAC (SP).

(Versão do artigo publicada na Revista Paróquias. Clique abaixo para fazer o download)

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