Equipes comprometidas têm como base a coesão, como já explicamos em artigo anterior (“Conjunto Articulado: desenvolva uma equipe comprometida e fortalecida por uma liderança partilhada”/Edição setembro-outubro 2016). A coesão relaciona-se, também, com a resiliência, que é a capacidade de um organismo ou sistema sobreviver a impactos, injúrias, dificuldades e estresse e sair dessas situações em condições melhores, mais fortalecido. Do ponto de vista organizacional, seja na Congregação, seja na Paróquia, é altamente desejável se trabalhar com pessoas, equipes e organizações resilientes. Como se chega a isso, no entanto? Como se pavimenta o caminho para a resiliência?
A resiliência é construída, pelo menos quando se trata de organizações sociais.[1] Esse desenvolvimento é possível a partir de pelo menos quatro pressupostos:
- Respeito: esse talvez seja o fundamento primeiro de uma equipe resiliente. As pessoas precisam se sentir respeitadas no ambiente de trabalho. O respeito a si fortalece a autoestima, “alimenta” a motivação e robustece os vínculos da pessoa com seu empregador e entre os diversos elementos do grupo. A organização precisa, igualmente, respeitar as leis e normas vigentes, demonstrando para todos os interessados ser cumpridora dos preceitos legais previstos. Essas duas dimensões do respeito – interno e externo – contribuem para o fortalecimento da reputação da instituição e para a melhor aderência de todos os colaboradores à sua essência.
- Reconhecimento: sentir-se reconhecido como pessoa, como profissional, e ter seu trabalho e esforços vistos, aceitos e atestados constituem, também, potentes incentivos à permanência na instituição e ao desempenho de tarefas com muito mais satisfação e esforços.
- Tratamento justo: a percepção de que as lideranças e, de resto, toda a organização, dispensa tratamento justo e igualitário às pessoas se constitui em forte estímulo a um desempenho profissional sério e comprometido. Por outro lado, injustiças internas têm efeito altamente deletério sobre cada um e sobre a coesão da equipe.
- Conduta ética: bons comportamentos, bom desempenho e boas práticas se ensina é pelo exemplo. No caso, exemplo advindo das lideranças. Lideranças probas, fortemente engajadas em procedimentos pautados pela ética, traçam rotas a serem trilhadas por todos. Incoerências dos líderes são fatais, nesse quesito, levando à perda de credibilidade interna e externa, com riscos à reputação da instituição. Significam, além do mais, esboroamento dos laços de confiança, de credibilidade e de respeito internos, compartilhados entre a equipe e entre esta e a organização.
Presentes essas condições na gestão, a resiliência, tanto das equipes quanto da organização pode ser desenvolvida. Para essa construção, um outro mecanismo, dinâmico, constante e frequente precisa estar igualmente presente: a prática do feedback. Entendido como o retorno ou avaliação que se dá ao funcionário ou ao grupo quanto a ações feitas, projetos realizados ou posturas adotadas, o feedback se constitui em ferramenta essencial para moldar o caminho para a resiliência.
Ao ingressar numa instituição confessional pela primeira vez, por exemplo, a pessoa traz do mercado uma série de conceitos e de práticas que precisam ser revistos e, eventualmente, mudados, considerando as bases bastante diferentes das instituições católicas em relação ao mercado laico. Como “guardiãs da ética”, as instituições católicas precisam ser severas quanto a desvios nesta dimensão. O mercado, de um modo geral, nem sempre demonstra essa severidade, tendo a ética, no caso brasileiro, sido “esticada e deformada” em amplitudes inauditas, visando atender a interesses cabulosos. Apenas para ficarmos nessa dimensão, imagine-se que tipo de “adaptação” conceitual e comportamental um funcionário precisará, portanto, fazer para se adequar ao trabalho numa instituição confessional. Como chegar, porém, a essa nova compreensão, a novas atitudes? Um senso agudo de observação será certamente necessário ao novo contratado. Mas é igualmente fundamental que sua liderança mais próxima o acompanhe, esteja ao seu lado ao longo de sua trajetória na instituição, sinalizando para ele ou ela, via feedback, o que, no seu comportamento, está de acordo e o que não está, com as normas, regras, preceitos, princípios e valores da instituição confessional onde ele ou ela está se inserindo. Sem esse acompanhamento e sinalização constantes, é muito provável que o novo colaborador não consiga aquilatar a distância entre esta instituição e aquelas do mercado, de onde ele provém.
Ao mesmo tempo em que pontua para todos os valores e princípios-guia da instituição confessional, a prática do feedback tende a fortalecer cada colaborador, tornando-os mais resilientes. Ressalta-se que a forma de se dar feedback precisa ser adequada; feedback dado de forma errada causa mais danos do que bem. Prover feedbacks maduros, sinceros, honestos, sem intenções de destruir a pessoa e o profissional, mostra que erros podem ser corrigidos (destacando sua envergadura e sua gravidade, quando for o caso), que enganos são oportunidades de crescimento, que condutas inapropriadas podem ser aprimoradas, que “mal-feitos” podem se tornar “bem-feitos”. Vem daí, pois, a resiliência! Da percepção e do sentimento de que errar não significa “ser arrasado” nascem a segurança e a vontade de fazer melhor, de acertar, de desenvolver-se. Origina-se também daí a vontade de se qualificar melhor profissionalmente, de desenvolver outras habilidades e competências, ampliando o repertório de respostas nos âmbitos pessoal e profissional. A prática do feedback é inclusiva e humanizadora.
Pessoas e equipes resilientes enfrentam com galhardia as dificuldades do dia a dia, os momentos mais estressantes e difíceis, as cobranças às vezes mais fortes, também necessárias, e os prazos escassos para a resolução de tarefas mais complexas. Equipes resilientes são também mais comprometidas com o trabalho, com os objetivos maiores da instituição, com o seu carisma. Nessa linha, tais pessoas e equipes estarão muito mais aptas a atenderem ao que o Papa Francisco exorta, em sua fala de 22 de dezembro de 2016, quando diz que a Igreja “não deve temer as rugas e sim as manchas”.
[1] Em termos de organismos, características genéticas parecem exercer papel importante em sua resiliência.
POR: Sebastião V. Castro é Doutor em Políticas Públicas, Mestre em Meio Ambiente, Especialista em Gestão de Pessoas, Psicólogo, Biólogo, Professor e Diretor de Colégios. Diretor do Axis Instituto e autor de “Gestão de Pessoas em Instituições Confessionais”.
PUBLICADO: Revista Paróquias – março/abril 2017
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