(Por Pe. Zilmo Jota dos Santos)
A evolução da Liderança
A evolução da liderança na história da humanidade e sua utilização como mecanismo estratégico nas organizações
A liderança é um tópico questionado na contemporaneidade. Mas é importante desde os primórdios até o contexto contemporâneo? Era um conceito conhecido? Haveria um líder que levava sua equipe a patamares antes não vislumbrados? Nem sempre a liderança foi compreendida da maneira como é atualmente.
Por isso, o presente trabalho intitulado: A evolução da liderança na história da humanidade e sua utilização como mecanismo estratégico nas organizações, tem como objetivo pesquisar se havia presença da liderança em fases diferentes do desenvolvimento da humanidade e identificar sua utilização enquanto aparato estratégico em qualquer âmbito.
É importante compreender esse aspecto, para que se consiga delinear ou projetar os rumos desse relevante conceito e consideravelmente bem discutido nos dias de hoje na academia, nas organizações e nas instituições. A pesquisa é descritiva, cujo principal objetivo é a caracterização de um fenômeno e de caráter indutivo. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico no que se refere a esse assunto.
Pode-se perceber que em cada etapa da evolução histórica do homem, a liderança esteve presente: enquanto hominídeos, nos muitos impérios, enquanto civilizações e nas atuais organizações como chefes. Para isso, deve-se perpassar pelos momentos históricos e enfim pensar na liderança enquanto estratégia em qualquer área do desenvolvimento humano nos dias atuais.
A Liderança na História
Entender o que é liderança, exige compreender o líder como integrante que se sobressai perante os outros em quesitos de coordenação. Desde os primórdios da humanidade, há dois milhões de anos, os seres quase humanos, ou hominídeos, habitavam o planeta em quase toda sua extensão. Andavam eretos e com seus utensílios rudimentares se alimentavam de nozes, frutas, plantas e pouca carne. Embora suas características fossem arcaicas, percebeu-se que aquelas comunidades se desenvolviam quando trabalhavam em conjunto e quando haviam outros liderando o grupo (BLAINEY, 2012).
Com o passar do tempo houveram mudanças no território. A língua e escrita se desenvolveram e novos passos foram alçados. O estabelecimento de uma sociedade pautada em princípios naturais foi se estruturando. Como um número vasto de pessoas em um mesmo local alcançaria a ordem? A liderança se fazia presente nas civilizações. Consoante Bennis (1998, p. 05) “assim como o amor, a liderança continuou a ser algo que todos sabiam que existia, mas ninguém podia definir.”
Na Grécia antiga se observava a preocupação com a formação dos líderes políticos, como ressaltado na obra de Fiedler (1967). Segundo este autor
“A preocupação com a liderança é tão antiga quanto a história escrita: A república de Platão constitui um bom exemplo dessas preocupações iniciais ao falar da adequada educação e treinamento dos líderes políticos, assim como da grande parte dos filósofos políticos que desde essa época procuraram lidar com esse problema” (FIEDLER, 1967, p. 3).
Assim como na Grécia, nas terras do Egito às margens do rio Nilo, a cerca de 2000 anos antes de Cristo, já se via uma sociedade organizada a ponto de construir um monumento como as pirâmides, que hoje atrai turistas de todo o mundo pela sua beleza, majestade e complexidade para o povo daquela época. A sociedade era organizada com um faraó no poder, que de tão importante comandava até a marcação do tempo. “Muito cedo se habituaram [egípcios] a decompor o tempo de acordo com os anos de reinado do faraó no poder” (DESPLANCQUES, S.A, p. 22).
O fenômeno mais intrigante do início do primeiro milênio da era cristã, foi a presença de um judeu chamado Jesus Cristo. Não era sua estatura, sua origem ou sua inteligência que chamavam atenção, entretanto o seu discurso e capacidade de promover a integração, sobressaíam a todos os outros adjetivos. No próprio livro do Evangelista Mateus2, um coletor de impostos da época, é evidenciado a capacidade de líder, de conquistar pessoas, instruir e guiar daquele mesmo judeu.
Foto: Jesus sentado a mesa com os apóstolos.
Já no período da Idade Média, a Igreja Católica se destacou como uma instituição em expansão, foi um período cuja “visão fortemente hierárquica de mundo, com sua arte voltada para o elemento sagrado e com sua filosofia a serviço da teologia e da problemática religiosa” (MARCONDES, 1998, p.141) conseguia influenciar grande parte da população daquele período.
No fim do período medieval se sobressaiu o movimento Renascentista que rompia com as ideias medievais. Tratava-se de um movimento “[…] voltado para o homem, o homem comum florentino, artesão, artífice, cidadão, e não o senhor feudal medieval ou o alto dignitário da Igreja” (MARCONDES, 1998, p. 143). A influência do catolicismo começava a ser minada por pensamentos que descentralizavam a figura de Deus e colocava o homem como medida de todas as coisas (MARCONDES, 1998).
É nesse ínterim que surge o pensamento de Nicolau Maquiavel (1527) cujo desejo pela vida política era intenso, fazendo dele um aristocrata. Para ele, a liderança traduzia-se na política que comandava os estados. Segundo Maquiavel (2017)
“Os estados que são governados por um príncipe e por servos têm o seu príncipe com mais autoridade, porque em toda a sua província não existe homem que reconheça alguém a não ser ele por superior; e se obedecem a algum outro, fazem-no como a ministro e funcionário, ao passo que a ele têm um amor particular (MAQUIAVEL, 2017, p.111).”
Desse modo, as ideias relacionadas ao poder caracterizam-se por regulamentar a ordem entre os súditos e o governante, uma vez que o poder em si mesmo é o objetivo da ação política. Pode-se compreender o papel fundamental da liderança também nessa fase.
Um outro expoente que surgiu na modernidade foi René Descartes (1650), que em sua obra Meditações Metafísicas (1983), na sexta meditação, afirma que o pensar é a essência do existir. Por isso se deve negar todas as coisas, duvidar de tudo, para então construir novamente. Há uma mudança de paradigmas nessa fase: em relação à crença em um criador, na fé em instituições, e principalmente na liberdade do pensamento.
São pontos salvaguardados pelo raciocínio lógico de um filósofo, físico e matemático que colocou todas as coisas em “suspensão”, deixando a dúvida como instrumento de construção do pensamento. Assim o líder seria aquele que tivesse o pensamento livre e o intelecto sem qualquer influência.
No mundo contemporâneo a liderança se esbarra em um novo entrave: a liderança como imposição e a liderança enquanto habilidade de gerir uma equipe, sendo participante ativa em todos os processos. Para o autor Robbins (2002, p. 304) a “liderança é a capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos.” Por ser um elemento fundamental no desenvolvimento de uma equipe, é mister que o líder seja bem aceito pela comunidade cuja representatividade se dá em sua pessoa.
[Continua]
Sobre o autor (Pe. Zilmo Jota dos Santos):
Presbítero da Arquidiocese de Montes Claros-MG. Atualmente exerce a função de Ecônomo Arquidiocesano.
Representante dos Presbíteros da Arquidiocese de Montes Claros. Professor da disciplina Administração Paroquial no Seminário Maior Imaculado Coração de Maria (Montes Claros-MG). É licenciado em Filosofia pelo Centro de Ensino Superior do Brasil – CESB Teologia pelo Seminário Maior Imaculado Coração de Maria da Arquidiocese de Montes Claros. Pós-graduação lato sensu em Gestão Eclesial no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA). Pároco da Paróquia São José Operário em Montes Claros MG.
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Fotos: Pixabay