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Amazônia – Terra Santa – Terra “querida”

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(Por João Custodio de Barros Filho)

A Amazônia


“Produza a terra plan­­tas, ervas que contenham semente e á­r­vores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente”. E assim foi feito. A terra pro­duziu plantas, ervas que contêm semente segundo a sua espécie, e árvores que produzem fruto segundo a sua espécie, contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isso era bom.”   Gênesis 1:11-12

Este foi o sonho de Deus para a Terra e continua hoje nos Sonhos do Santo Padre para a Amazônia e seu povo: que a justiça social seja revelada e respeitada por aqueles que detêm o poder; que a história de calamidade ambiental e exploração humana tenham fim, através de um pacto de toda a humanidade pela conservação e sustentabilidade deste bioma tão importante para o nosso planeta.

Este artigo pretende propor uma discussão, um debate sincero e virtuoso sobre a Amazônia, a floresta, seus recursos e, prioritariamente, o seu povo e todas as implicações desta intrínseca relação, tendo como referência, o texto: EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL QUERIDA AMAZONIA,  do Santo Padre Papa Francisco.

Minha vivência com a Amazônia

Convivi, durante anos, com a triste realidade da exploração descomedida da Amazônia, especificamente nos Estados do Pará, Maranhão e Amapá. Convivi com a luta pela preservação do meio ambiente, os embates entre grandes empresários mineradores, latifundiários e industriais com os índios, povos ribeirinhos e caboclos.

Com o poder econômico, esses empresários inescrupulosos eram tratados como verdadeiros soberanos naquela terra sagrada que, durante séculos, tem abrigado seres humanos, animais e as plantas, numa convivência natural e magnífica.

Esses donos do capital visavam à implantação de grandes projetos industriais, minerações e carvoarias, para alimentar alto fornos de siderurgia; e, ainda, fazendas com monocultura de eucalipto (chamar isso de “reflorestamento” é uma agressão à inteligência!), projetos agropecuários, agricultura extensiva, etc.; tudo isso, é claro, ocasionando rios assoreados, barragens com rejeito de minério de ferro e de outros minerais, poluição ambiental, desmatamento, expulsão de povos ribeirinhos e agricultores locais; e, mais ainda, com outros efeitos “colaterais”, já que a partir de trabalho degradante e em condições análogas à escravidão; e, talvez ainda  pior, a falsa impressão de progresso, pois a maior parte dos patrões (como são chamados na região) são do sudeste!

As implicações, para a região, eram e são a queda da qualidade de vida da população nativa, poluição atmosférica (pelas queimadas), extinção de espécimes nativas na fauna e flora, aumento da criminalidade, prostituição e exploração sexual infantil, uma vez que há um movimento migratório sem planejamento para toda a região, com a falsa promessa do “Eldorado da Amazônia”.

A infraestrutura na região é insuficiente para receber tanta gente, faltando educação, saúde e segurança; os povos indígenas são expulsos de sua terra natal, pois são deslocados para reservas sob a tutela do Estado nas quais, na verdade, só ficam as crianças, as mulheres e os idosos; os homens, em sua maioria, vão para as periferias das cidades como indigentes ou para a marginalidade; e, por último, a morte de crianças e jovens por causa da violência na região! Enfim, se não houver uma mudança de paradigma por parte deste “governo” (o que, convenhamos, parece difícil!) e dos futuros, as próximas gerações viverão momentos piores que os que vivenciamos hoje.

Sobre tudo isso o Sínodo da Amazônia discorreu com profundidade, no ano de 2019, resultando num debate que vem fornecendo um rico material para as diretrizes que a Igreja e o povo de Deus seguirão nos próximos tempos.

A Região Amazônica

A Floresta Amazônica há séculos atrai todo tipo de gente: exploradores, colonizadores, homens em busca de novas terras, novos horizontes, novos destinos em suas vidas.

Mas a floresta, com toda a sua exuberância, nunca foi tratada como deveria; a visão humana, na maioria das vezes, tem a terra como fornecedora eterna de matéria prima para sua subsistência, e o que faz parte dela: rios, florestas, despenhadeiros, o clima, as montanhas e, principalmente, os povos nativos; tudo e todos são meramente objetos ou algo também a ser usado, visando atender às premissas exploratórias do invasor.

O Brasil criou um modus operandi neste tipo de colonização, haja vista a Mata Atlântica que, desde o inicio do “descobrimento”, ocupava grande parte do território brasileiro e hoje está restrita a alguns minguados parques chamados “ecológicos”, Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), fazendas, etc, com fauna e flora em processo de extinção; uma floresta magnífica, exuberante, e que nunca teve o merecido respeito por parte dos exploradores e muito menos dos governantes (e da própria população).

Vínhamos de uma triste história recente, da época da Ditadura, de incentivo à migração e ocupação das terras amazônicas, inclusive com a construção da famigerada Transamazônica, que até hoje não foi concluída e que ceifou inúmeras vidas de trabalhadores, indígenas e tantos outros, desmatou milhares de hectares de florestas, destruiu aldeias inteiras, culturas milenares, forçou a migração dos nativos e, muitas vezes, saindo do nada para chegar a lugar nenhum; com o lema “terra sem homens para homens sem terra” esse empreendimento incentivou indiretamente a indústria ilegal de exploração de madeiras nativas, a grilagem de terras, a matança desenfreada dos colonos e a implantação de lugarejos que, depois, se transformaram em povoados e depois cidades, com um triste histórico de exploração da floresta para fins populistas, sem planejamento e sem um projeto alicerçado nas necessidades regionais.


Foto: Índios da Amazônia

Esse foi mais um dos inúmeros projetos faraônicos do governo militar visando o desenvolvimento a qualquer custo, aumentando a dívida externa e, como é notório, sendo mais uma fonte de desvio de recursos públicos, tornando-se uma “herança maldita” para a floresta amazônica e o povo brasileiro, principalmente os menos favorecidos.[1]

Novos ares?

A partir do início da década de 90 uma nova geração surgia, com um apelo ecológico muito forte; aqui no Brasil a democracia ainda engatinhava (eu penso que até hoje!); a mídia começava a surfar na onda ecológica.

A onda conservacionista, eu acredito, se fortaleceu com a Eco-92, que veio colocar em discussão exatamente isso, como o mundo tratava o meio ambiente e tudo à sua volta.

Ao mesmo tempo, fomentava-se a expansão da fronteira agrícola, com a implantação de fazendas com larga produção de grãos e cereais e com a criação, em grande escala, de gado de corte. Para que esses projetos fossem implantados a selva, na visão dos “empreendedores”, teria que ser substituída por campos de plantação e pastos, devastando milhares de hectares de florestas, acabando com mananciais, expulsando os povos nativos e sua cultura… afinal, o Brasil batia recordes de produção agrícola[2], tendo se transformado, atualmente, no maior exportador de carne bovina do planeta[3], mais uma vez sem um planejamento em suas bases; e, para cada Ministério, era nomeado um politico que servia aos interesses do partido do governo e dos latifundiários e não um técnico que iria trabalhar de acordo com as necessidades não só da elite, mas também das populações locais e de sua região.

[Continua]


[1] Pedro Henrique Campos: “Estranhas Catedrais: As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964, 1988)” (Eduff).

[2]  José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho: Expansão da fronteira agropecuária brasileira: desafios estruturais logísticos – boletim regional, urbano e ambiental | 12 | jul.-dez. 2015 IPEA

[3] ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne.  https://www.abracomex.org/exportacao-de-carne-mundial 27.08.2019


Sobre o autor (João Custodio de Barros Filho):

Psicólogo, Professor, Gestor de projetos empresariais e de instituições socioeducacionais, Diretor da Fundação Vida em Marabá/PA e Consultor do Axis Instituto.


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Fotos: Pixabay

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