(Por Márcio Moreira, Me)
O que é sentir fome?
A fome (do latim: faminem), necessidade fisiológica de alimento essencial para a manutenção e o pleno funcionamento do corpo, em sintonia com a mente, é uma carência que poderia, através do fomento da fraternidade, (do latim: fraternitas, que confere, em sua origem, a ideia de irmandade) simplesmente inexistir.
Mas, para isso é importante perguntar: você sabe o que é sentir fome? Não se trata da sensação momentânea, mas, sim de uma realidade de não se ter perspectiva do quê e de quando esta carência vital e indeclinável poderá ser minimamente saciada.
É através da abordagem deste tema “Fraternidade e Fome” que a Igreja Católica no Brasil conclama, pela terceira vez, os cidadãos (em especial os cristãos) a repensarem, através da Campanha da Fraternidade quaresmal, celebrada desde 1961, o seu papel e compromisso evangélico com o próximo, à luz, desta vez, do lema – Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16).
No Brasil, no primeiro semestre de 2022, de um total de cerca de 212 milhões de pessoas, quase 125 milhões conviviam com algum nível de insegurança alimentar, dentre as quais mais de 33 milhões de brasileiros enfrentavam a fome (15,5% da população).
Esta incerteza quanto ao alimento, na qual mais da metade da população brasileira se enquadra, é classificada, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em três graus: a leve, quando há incerteza quanto ao acesso ao alimento; a moderada, quando há redução quantitativa no consumo entre os adultos e ou ruptura nos padrões de alimentação, e a grave, que literalmente caracteriza a fome, quando esta redução ou privação de alimento atinge as crianças.
No entanto a fome é uma realidade mundial. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) estimam que cerca de 10% da população mundial, ou seja, 828 milhões de pessoas (num total de 8 bilhões da população mundial) não têm certeza se farão a próxima refeição.
Não adianta, portanto, um discurso esteticamente correto, mas sim, uma atitude profunda e estrutural. Em termos cristãos, estamos falando de conversão, mas, para o mercado, em geral, as iniciativas poderiam ser mais objetivas.
Cita-se que por exemplo, em junho de 2020, o Governo brasileiro publicou uma lei que dispunha sobre o combate ao desperdício de alimentos e a doação de excedente para o consumo humano. Todavia tem-se que, mesmo com o retorno do Brasil ao Mapa da Fome das Nações Unidas, somente 37% dos restaurantes doam os excedentes próprios para o consumo.
O levantamento foi publicado pelo Jornal Valor Econômico como resultado de uma pesquisa realizada pela Ticket, onde apurou-se que mais de 61% dos restaurantes, lanchonetes e bares geram sobra de comida diariamente.
Consta-se, também, neste caso, a existência de mais uma norma brasileira de pouca valia. Ela é, certamente, utilizada como discurso de que algo está sendo feito, mas sabe-se que, na prática, pouco ou nada ela contribui para incentivar doações e minimizar a carência de acesso ao alimento básico por aqueles que verdadeiramente necessitam.
Alternativas
Uma alternativa, conforme apontado na própria pesquisa, seria uma sinergia entre políticas públicas e econômicas, em que as doações poderiam sair do papel e aumentar, consideravelmente, caso existisse algum incentivo público na área fiscal (que, certamente, seria menos oneroso que outras políticas) e, ainda, um selo que identificasse os estabelecimentos como alinhados a uma política de sustentabilidade.
Num aspecto internacional, o Papa Francisco nos aponta, através da Fratelli Tutti, que um caminho a ser trilhado pelas nações seria o da “criação de organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para assegurar o bem comum mundial, a erradicação da fome e da miséria e a justa defesa dos direitos humanos fundamentais”.
[Continua]
Sobre o autor (Márcio Moreira, Me):
Mestre em Administração e Finanças, Auditor, Pós-Graduado em Auditoria Externa, Graduado em Ciências Contábeis, Perito Contábil e Especialista em Gestão Tributária. Professor de Graduação e Especialização: Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) e Faculdade Vicentina de Curitiba (FAVI).
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Fotos: Pixabay e Unsplash