(Por Adilson Souza, MSc)
O Magistério do Papa Francisco em três sintéticos pontos: a casa comum, o pacto educativo global e uma nova economia
Temos grandes possibilidades e também enormes desafios. Temos muitas potencialidades e, ao mesmo tempo, obstáculos diversos. Temos sonhos visionários e para realizá-los, caminhos estratégicos a serem colocados em prática. Torná-los ações como uma Igreja verdadeiramente em saída (EG, 2013) é um caminho desejado, imprescindível e urgente a ser percorrido.
Um mundo parado e voltado para si tem vida limitada, tal como a natureza que, estática, até pode se assemelhar a “morta”. E a nossa Igreja, se fechada em si mesma, permanecerá supostamente limpa e pura, porém, na ausência de oxigênio e à beira da morte. E o que se espera dela é que rompa horizontes, enlameie-se, envolva-se, vivifique e transforme a si e ao seu redor.
Isso é o que deseja o Papa Francisco de todos nós, fiéis. Ele mesmo nos ensina, de maneira régia e mestra, através de excertos de seu magistério papal, aqui representados e citados, da encíclica Laudato Si e o cuidado com a nossa Casa Comum; pelo Pacto Global Educativo e suas pistas necessárias à verdadeira mudança e aprendizado; e pela proposta de uma nova economia mundial, sendo aqui tratada como a Economia de Francisco (São).
Na Laudato Si, presenteada ao mundo há cinco anos, o papa discorre sobre a preocupação com o planeta, a quem carinhosamente chama de ‘Casa Comum’, lembrando as diversas degradações ocorridas ao longo da história, as perdas geradas, principalmente aos menos favorecidos, e cita os caminhos que poderão ser percorridos pelos variados atores com vistas à restauração dessa nossa ‘Casa’.
O Papa recorre, na encíclica, às falas dos três últimos Papas antes de seu pontificado e destaca uma delas, a do Papa Paulo VI se dirigindo à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – que lidera os esforços internacionais de erradicação da fome e da insegurança alimentar – em novembro de 1970, chamando a atenção para uma possível catástrofe ecológica dado o efeito causado pela explosão da civilização industrial e todas as suas implicações.
Os Papas anteriores e o meio ambiente
Paulo VI disse isso há exatos 50 anos, porém, quando observada a situação predatória contra o meio ambiente por fatores diversos, dentre eles, a poluição industrial citada naquela época e ainda hoje vigente, percebe-se que mudaram os cenários mas não mudaram os contragolpes da indústria e de outros agentes nocivos à civilização. Será que os alertas foram em vão? Ou eram alarmes falsos? Ou os interesses de uma mísera minoria sobrepõem-se aos interesses de uma esmagadora maioria indefesa, sem voz, sem vez e carente de forças capazes de alterar as mudanças tão necessárias e clamadas há séculos?
Na ocasião, Paulo VI alertava quanto à necessidade de uma mudança, e que essa fosse radical, no comportamento da humanidade; no entanto, seus apelos de então não foram e continuam não sendo ouvidos na medida necessária ao bem comum. Como dito pelo santo padre, ”os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem”.
Haja vista, as catástrofes nos grandes centros urbanos em épocas de enchentes e as recentes tragédias florestais ocorridas no mundo e, notadamente no Brasil, na Amazônia e no Pantanal. Mas alguém poderia questionar: ‘seria a teimosia incendiária dos caboclos e dos indígenas’?
O Papa Francisco recorre, também, a São João Paulo II que, com muito empenho, se envolveu no tema do meio ambiente durante seu pontificado. Em sua primeira encíclica, Redemptor Hominis (1979), ele dizia que “o homem parece muitas vezes não dar-se conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles somente que servem para os fins de um uso ou consumo imediatos”.
E completava, dizendo o quanto a harmonia se faz necessária e contributiva ao meio ambiente equilibrado e sustentável, afirmando o papel do homem em comunicação com a natureza, de forma responsável e coerente com as outras criaturas, profetizando este homem como “senhor e guarda inteligente e nobre, e não como um desfrutador e destrutor sem respeito algum”.
São João Paulo II advertiu, de maneira sábia e com profetismo santo, de que o homem parecia não se aperceber da importância e do significado do ambiente para além daqueles voltados tão somente para os seus fins ou consumo imediato. Ou seja, a preocupação com as gerações futuras já não se vislumbrava há mais de quatro décadas.
E citando, por fim, um dos três últimos papas que o antecederam, considerando que João Paulo I – ago/1978 a set/1978 – liderou a Igreja por apenas 33 dias em seu pontificado, morrendo subitamente e não gerando, assim, documentos ou momentos de grande expressão relacionadas às questões aqui tratadas, o Papa Francisco discorre, na Laudato Si, sobre a fala de Bento XVI, quando este, falando ao parlamento federal alemão (2011) chamava a atenção para os atos antropológicos predatórios e não racionais, ensinando que, “também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece”.
Foto: Mãos entrelaçadas.
A igreja e a economia mundial
No entanto, essa própria natureza humana não tem sido considerada e a auto manipulação que tem levado os homens à autodestruição são evidentes e cada vez mais frequentes. Deriva-se dessa ausência de respeito e de valor próprio de sua natureza um consequente reflexo exterior, quando o homem num apetite voraz, vem, ininterruptamente, extrapolando todos os limites atuais e potenciais e degradando, de forma cruel e intimidatória, as diversas possibilidades externas encontradas visando um auto-favorecimento ou as benesses de uma minoria despudorada e descomprometida com o bem comum.
Faz-se necessário e urgente, que as causas estruturais das disfunções da economia mundial sejam eliminadas e que os modelos e padrões estabelecidos pelo deus mercado sejam (re)ajustados e corrigidos em sua essência e em vista do planeta e, por consequência, da vida em geral.
Cabe destacar que a criação da encíclica tem, além do embasamento e referencial papal citados, outras diversas referências que citam, além de documentos da Igreja, também os apontamentos e discernimentos de inúmeros atores especialistas, como cientistas, gestores e líderes, filósofos, teólogos, Igrejas distintas da Igreja católica e organizações sociais, que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre essas questões.
Diversas visões possibilitam uma análise e elaboração documental que extrapolam as religiões, desmistificam interesses de pequenos grupos, possibilitam a imparcialidade textual e ainda, propõem-nos a manter um comportamento que supera o “esboço” de intelectualidade ou de romantismo econômico de um extremista conservador. O que se propõe a analisar, e a viabilidade das propostas possíveis, têm relação direta com a vida e vida em abundância.
Parafraseando e pensando como São Francisco, teremos a graça de enxergarmos, em cada criatura, um irmão e/ou uma irmã e, unidos a estes por afeto, por laços de carinho, seremos impulsionados a cuidar de tudo que existe. E este ‘santo dos animais e das florestas’ estimula o hoje Francisco que, dos seus aposentos no Vaticano toma fantásticas e surpreendentes iniciativas, e nos intima e provoca a assumirmos o verdadeiro papel de guardiões da fé e da vida, de proteção de tão belo presente a nós doado por Deus na criação do mundo, a nossa Casa Comum, com toda a sua riqueza, beleza e delicadeza.
[Continua]
Sobre o autor (Adilson Souza, MSc):
Matemático, Mestre em Engenharia Metalúrgica e Especialista em Gestão Estratégica. Superintendente do Axis Instituto e Consultor Organizacional Sênior. Professor de Graduação e Especialização: UIT/Itaúna, Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) e Faculdade Vicentina de Curitiba (FAVI). Cursando Teologia e aluno da Escola Diaconal da Diocese de Divinópolis/MG.
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Fotos: Pixabay