{"id":33015,"date":"2022-10-11T14:52:04","date_gmt":"2022-10-11T17:52:04","guid":{"rendered":"https:\/\/www.axisinstituto.com.br\/blog\/?p=33015"},"modified":"2022-10-11T14:52:04","modified_gmt":"2022-10-11T17:52:04","slug":"papa-concilio-ensina-estar-mundo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.axisinstituto.com.br\/blog\/papa-concilio-ensina-estar-mundo\/","title":{"rendered":"Papa: o Conc\u00edlio nos ensina a estar no mundo"},"content":{"rendered":"
(Mat\u00e9ria reproduzida do Vatican News)<\/em><\/p>\n O Papa Francisco presidiu a Santa Missa, na Bas\u00edlica de S\u00e3o Pedro, na tarde desta ter\u00e7a-feira (11\/10), mem\u00f3ria do Papa S\u00e3o Jo\u00e3o XXIII, e 60\u00b0 anivers\u00e1rio de abertura do Conc\u00edlio Ecum\u00eanico Vaticano II.<\/p>\n Francisco iniciou sua homilia com a pergunta que Jesus faz a Pedro: “Amas-me?”. Depois da resposta de Pedro, Jesus responde: “apascenta as minhas ovelhas”. “No anivers\u00e1rio da abertura do Conc\u00edlio Vaticano II, sentimos dirigidas tamb\u00e9m a n\u00f3s, a n\u00f3s como Igreja, estas palavras do Senhor: Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas”, disse o Papa.<\/p>\n Em primeiro lugar, amas-me? \u00c9 uma interpela\u00e7\u00e3o, porque o estilo de Jesus n\u00e3o \u00e9 tanto o de dar respostas, mas de fazer perguntas, perguntas que provocam a vida. E o Senhor, que \u00abna riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles\u00bb, pergunta ainda, pergunta sempre \u00e0 Igreja, sua esposa:<\/p>\n \u00abAmas-Me?\u00bb O Conc\u00edlio Vaticano II foi uma grande resposta a esta pergunta: foi para reavivar o seu amor que a Igreja, pela primeira vez na hist\u00f3ria, dedicou um Conc\u00edlio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua pr\u00f3pria natureza e miss\u00e3o. E descobriu-se mist\u00e9rio de gra\u00e7a gerado pelo amor: descobriu-se povo de Deus, corpo de Cristo, templo vivo do Esp\u00edrito Santo!<\/i><\/p>\n Segundo o Papa, “este \u00e9 o primeiro olhar que devemos ter sobre a Igreja, o olhar do alto. Sim, antes de mais nada a Igreja deve ser vista do alto, com os olhos enamorados de Deus. Perguntemo-nos se, na Igreja, partimos de Deus, do seu olhar enamorado sobre n\u00f3s. Existe sempre a tenta\u00e7\u00e3o de partir do eu antes que de Deus, colocar as nossas agendas antes do Evangelho, deixar-se levar pelo vento do mundanismo para seguir as modas do tempo ou rejeitar o tempo que a Provid\u00eancia nos d\u00e1 e voltar-nos para tr\u00e1s.\u00a0Mas tenhamos cuidado! Quer o progressismo que segue o mundo, quer o retrocedismo que lamenta um mundo passado, n\u00e3o s\u00e3o provas de amor, mas de infidelidade. S\u00e3o ego\u00edsmos pelagianos, que antep\u00f5em os pr\u00f3prios gostos e planos ao amor que agrada a Deus, ou seja, o amor simples, o amor humilde e fiel que Jesus pediu a Pedro”.<\/p>\n Amas-Me? Redescubramos o Conc\u00edlio para devolver a primazia a Deus, ao essencial: a uma Igreja que seja louca de amor pelo seu Senhor e por todos os homens, por Ele amados; a uma Igreja que seja rica de Jesus e pobre de meios; a uma Igreja que seja livre e libertadora. O Conc\u00edlio indica \u00e0 Igreja esta rota: como Pedro no Evangelho, f\u00e1-la voltar \u00e0 Galileia, \u00e0s fontes do primeiro amor, para redescobrir nas suas pobrezas a santidade de Deus, para reencontrar no olhar do Senhor crucificado e ressuscitado a alegria perdida, para se concentrar em Jesus. Quando j\u00e1 se aproximava o fim dos seus dias, o Papa Jo\u00e3o escrevia: \u00abEsta minha vida, que caminha para o ocaso, n\u00e3o poderia ter melhor coroamento do que concentrar-me totalmente em Jesus, filho de Maria, (…) em grande e continuada intimidade com Jesus, contemplado na imagem: menino, crucificado, adorado no Sacramento\u00bb. Este \u00e9 o nosso olhar alto, a nossa fonte sempre viva!<\/p>\n O Papa convidou a voltar “\u00e0s puras fontes de amor do Conc\u00edlio. Reencontremos a paix\u00e3o do Conc\u00edlio e renovemos a paix\u00e3o pelo Conc\u00edlio! Imersos no mist\u00e9rio da Igreja m\u00e3e e esposa, digamos tamb\u00e9m n\u00f3s com S\u00e3o Jo\u00e3o XXIII: \u00abgaudet Mater Ecclesia<\/em> \u2013 alegra-se a M\u00e3e Igreja\u00bb. Seja a Igreja habitada pela alegria. Se n\u00e3o se alegra, desdiz-se a si mesma, porque esquece o amor que a criou. E todavia quantos de n\u00f3s n\u00e3o conseguem viver a f\u00e9 com alegria, sem murmurar nem criticar? Uma Igreja enamorada por Jesus n\u00e3o tem tempo para confrontos, venenos e pol\u00eamicas. Deus nos livre de ser cr\u00edticos e impacientes, duros e irasc\u00edveis. N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 quest\u00e3o de estilo, mas de amor, porque quem ama \u2013 como ensina o ap\u00f3stolo Paulo \u2013 faz tudo sem murmurar. Senhor, ensinai-nos o vosso olhar alto, ensinai-nos a olhar a Igreja como a vedes V\u00f3s. E quando formos cr\u00edticos e descontentes, lembrai-nos que ser Igreja \u00e9 testemunhar a beleza do vosso amor, \u00e9 viver dando resposta \u00e0 vossa pergunta: amas-Me? ”<\/p>\n Em segundo lugar, Amas-Me? Apascenta as minhas ovelhas. Apascenta: com este verbo, Jesus exprime o amor que deseja de Pedro. Pensemos precisamente em Pedro: era um pescador de peixes e Jesus transformara-o em pescador de homens. Agora atribui-lhe um of\u00edcio novo: o de pastor, que nunca havia exercido. E \u00e9 uma viragem, porque, enquanto o pescador agarra para si, atrai a si, o pastor ocupa-se dos outros, apascenta os outros. Mais, o pastor vive com o rebanho, alimenta as ovelhas, afei\u00e7oa-se a elas. N\u00e3o est\u00e1 por cima, como o pescador, mas no meio.<\/p>\n Eis o segundo olhar que nos ensina o Conc\u00edlio: o olhar no meio, estar no mundo com os outros e sem nunca se sentir acima dos outros, como servidores do maior reino que \u00e9 o Reino de Deus; levar a boa nova do Evangelho para dentro da vida e das l\u00ednguas dos homens, partilhando as suas alegrias e esperan\u00e7as. Como \u00e9 atual o Conc\u00edlio! Ajuda-nos a rejeitar a tenta\u00e7\u00e3o de nos fecharmos nos recintos das nossas comodidades e convic\u00e7\u00f5es, para imitar o estilo de Deus, que nos descreveu hoje o profeta Ezequiel: \u00abprocurarei a [ovelha] que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei a que est\u00e1 ferida e tratarei da que est\u00e1 doente\u00bb.<\/i><\/p>\n Apascenta: a Igreja n\u00e3o celebrou o Conc\u00edlio para fazer-se admirar, mas para se dar. De facto, a nossa santa M\u00e3e hier\u00e1rquica, nascida do cora\u00e7\u00e3o da Trindade, existe para amar. \u00c9 um povo sacerdotal: n\u00e3o deve destacar-se aos olhos do mundo, mas servir o mundo. N\u00e3o o esque\u00e7amos! O povo de Deus nasce soci\u00e1vel e rejuvenesce gastando-se, porque \u00e9 sacramento de amor, sinal e \u00abinstrumento da \u00edntima uni\u00e3o com Deus e da unidade de todo o g\u00e9nero humano\u00bb. Irm\u00e3os, irm\u00e3s, voltemos ao Conc\u00edlio, que redescobriu o rio vivo da Tradi\u00e7\u00e3o sem estagnar nas tradi\u00e7\u00f5es; reencontrou a fonte do amor, n\u00e3o para ficar a montante, mas para que a Igreja des\u00e7a a jusante e seja canal de miseric\u00f3rdia para todos.<\/p>\n Voltemos ao Conc\u00edlio para sair de n\u00f3s mesmos e superar a tenta\u00e7\u00e3o da autorreferencialidade. Apascenta \u2013 repete o Senhor \u00e0 sua Igreja \u2013 e, apascentando, supera as nostalgias do passado, o lamento pela falta de relev\u00e2ncia, o apego ao poder, porque tu, povo santo de Deus, \u00e9s um povo pastoral: n\u00e3o existes para te apascentar a ti mesmo, mas os outros, todos os outros, com amor. E, se \u00e9 justo prestar uma aten\u00e7\u00e3o particular, que esta seja para os prediletos de Deus: os pobres, os descartados, a fim de ser, como disse o Papa Jo\u00e3o, \u00aba Igreja de todos, e particularmente a Igreja dos pobres\u00bb.<\/p>\n Em terceiro lugar, Amas-Me? Apascenta \u2013 conclui o Senhor \u2013 as minhas ovelhas. N\u00e3o tem em mente s\u00f3 algumas, mas todas, porque ama a todas; a todas designa, afetuosamente, como \u00abminhas\u00bb. O bom Pastor v\u00ea e quer o seu rebanho unido, sob a guia dos Pastores que lhe deu. Quer \u2013 e \u00e9 o terceiro olhar \u2013 o olhar do conjunto.<\/p>\n O Conc\u00edlio recorda-nos que a Igreja, \u00e0 imagem da Trindade, \u00e9 comunh\u00e3o. Em vez disso, o diabo quer semear a ciz\u00e2nia da divis\u00e3o. N\u00e3o cedamos \u00e0s suas adula\u00e7\u00f5es, n\u00e3o cedamos \u00e0 tenta\u00e7\u00e3o da polariza\u00e7\u00e3o. Quantas vezes, depois do Conc\u00edlio, os crist\u00e3os se empenharam por escolher uma parte na Igreja, sem se dar conta de dilacerar o cora\u00e7\u00e3o da sua M\u00e3e! Quantas vezes se preferiu ser \u00abadeptos do pr\u00f3prio grupo\u00bb em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irm\u00e3os e irm\u00e3s, \u00abde direita\u00bb ou \u00abde esquerda\u00bb mais do que ser de Jesus; arvorar-se em \u00abguardi\u00f5es da verdade\u00bb ou em \u00absolistas da novidade\u00bb, em vez de se reconhecer como filhos humildes e agradecidos da santa M\u00e3e Igreja.<\/i><\/p>\n O Senhor n\u00e3o nos quer assim: somos as suas ovelhas, o seu rebanho, e s\u00f3 o seremos juntos, unidos. Superemos as polariza\u00e7\u00f5es e guardemos a comunh\u00e3o, tornemo-nos cada vez mais \u00abum s\u00f3\u00bb, como Jesus implorou antes de dar a vida por n\u00f3s. Nisto, nos ajude Maria, M\u00e3e da Igreja. Aumente em n\u00f3s o anseio pela unidade, o desejo de nos empenharmos pela plena comunh\u00e3o entre todos os crentes em Cristo. \u00c9 bom que hoje, como durante o Conc\u00edlio, estejam conosco representantes doutras Comunidades crist\u00e3s. Obrigado pela vossa presen\u00e7a!<\/p>\n N\u00f3s Vos damos gra\u00e7as, Senhor, pelo dom do Conc\u00edlio. V\u00f3s que nos amais, livrai-nos da presun\u00e7\u00e3o da autossufici\u00eancia e do esp\u00edrito da cr\u00edtica mundana. V\u00f3s, que nos apascentais com ternura, fazei-nos sair dos recintos da autorreferencialidade. V\u00f3s que nos quereis rebanho unido, livrai-nos do artif\u00edcio diab\u00f3lico das polariza\u00e7\u00f5es. E n\u00f3s, vossa Igreja, com Pedro e como Pedro Vos dizemos: \u00abSenhor, V\u00f3s sabeis tudo; bem sabeis que Vos amamos\u00bb.<\/p>\n <\/p>\nFrancisco disse que o Conc\u00edlio Vaticano II nos ensina “a levar a boa nova do Evangelho para dentro da vida e das l\u00ednguas dos homens, partilhando as suas alegrias e esperan\u00e7as”.<\/h3>\n